Primeiro post do blog, e nada melhor do que começar pelos porquês.
Sei que ter um blog em pleno 2023 pode ser algo meio cafona, ortodoxo e antigo, mas é que nenhum outro espaço me cabe tão bem quanto poder juntar várias palavras sem ter aquele sufocante limite de 2200 caracteres. Com esse espaço, acho que consigo respirar fundo novamente, acho que posso mergulhar fundo sem ter medo de ser rasa.
Tive o meu primeiro blog chamado Lua Intensa em 2013, há exatos dez anos, e para relembrar esse espaço de uma década, por que não voltar as origens e regatar uma parte de mim que ficou adormecida por tanto tempo? Espero que esse espaço seja sobre isso: sobre me resgatar, me reconectar, me redescobrir, me salvar das vezes que deixei de ser eu e que fui perdendo a minha essência, a minha verdade e os meus interesses.
Os últimos três anos foram insuportáveis, amargos e dolorosos, e não tinha me dado conta disso até algumas semanas atrás. Talvez eu tenha até percebido que algo não estava fluindo, que existia algo me apertando o peito, ou que havia uma vírgula no lugar errado, mas sabe quando você empurra para debaixo do tapete pela simples preguiça de ter que fazer um esforço a mais? Foi isso: eu simplesmente ignorei.
Visto de cá, parece uma eternidade o tempo que passei acatando tudo o que o Marketing Digital dizia. É por causa da bagunça que ficou em mim graças a essas promessas tortas, a essas regras ridículas, a essas receitas milagrosas, que eu cheguei a beira do desgaste, da exaustão e de uma Luana que já não sabe mais quem é, e está tentando se redescobrir, bem lentamente e sem pressa dessa vez.
Criar conteúdo tão automaticamente nas redes sociais foi me apagando, especificamente o Instagram. Engolir sem mastigar todos os passos a passos, todas as receitas, todos os atalhos, todas as estratégias, todas as dicas infalíveis, foi me causando tontura & enjoou. Com o tempo, foi me desconfigurando. Olho para trás, e vejo que foram três anos vivendo para um algoritmo, seguindo tudo o que diziam, sem filtro, sem ressalvas, sem consciência.
“Crie conteúdo desse jeito”, “Só assim funciona”, “Você tem que mostrar a sua rotina”, “Você não pode se expor tanto”, “Não pode entregar demais para as pessoas no gratuito”, “Você precisa ser autoridade”, “Tem que ter uma linha editorial”, “Precisa ser especialista em um nicho”, “Você tem que criar muito reels, carrossel e não pode escrever muito que cansa as pessoas”, “Sempre tem que ofertar o seu produto”.
Foram tantos “você tem que, você precisa, você deve” que fiquei perdida & confusa. Foram tantas pessoas dizendo que tinham a resposta certa, tantas dizendo que encontraram a estratégia perfeita, que desbloquearam o segredo das vendas automáticas, que tinham a fórmula imperdível, e que enfiaram na sua cabeça que esse era o único caminho, e se você estivesse de fora, é como se estivesse perdendo algo, e ficasse para trás.
E aquela coisa que começou com uma vontade genuína de ensinar outras pessoas, de compartilhar a vida cotidiana de um jeito simples, leve & possível, que não passava de um hobby e uma brincadeira divertida, foi-se perdendo e deu espaço para uma obsessão: vender, crescer o perfil, alcançar novas pessoas, mostrar a rotina perfeita, convencer. Sempre carreguei a certeza do poder transformador do Manual da Vida Leve, meu e-book sobre produtividade saudável e bem-estar inspirado pela Psicologia Positiva.
Mas eu sempre ouvi que ele era demais, que entregava muito nele, que eu precisava reduzir a quantidade de páginas, que devia falar sobre apenas alguns pontos e transformar o resto em um curso mega completo para vender por trezentos reais. E isso foi me desgastando, porque sempre ouvi que precisava vendê-lo sobre aquela urgência desenfreada de: “em breve, o valor dele vai aumentar”, “última chance de adquirir”, “se você não comprar agora, vai perder aquele bônus exclusivo”, “você vai ficar de fora, vai se arrepender”, etc.
Chamam isso de gatilhos mentais de escassez, mas eu jamais me identifiquei com esse tipo de venda agressiva. Queria que as pessoas comprassem porque entendiam o poder transformar que o Manual poderia ter na vida de alguém, mas os gurus do Marketing Digital sempre falaram que isso não bastava e não era o suficiente. E por meses, eu acreditei que eles eram os fodões e detinham todo o poder e conhecimento sobre isso, mas acatar isso custou minha criatividade & autenticidade.
Depois de um tempo, eu já nem sei mais como criar um conteúdo para o Instagram, não sei mais falar sobre as coisas do meu interesse, sobre as minhas preferências e gostos, porque foram tantas às vezes que guardei para mim tudo aquilo que eu realmente queria falar, e que sob o meu silêncio, disse apenas o que o algoritmo queria ouvir. Estar no Instagram produzindo conteúdo igual uma maluca, apenas me fez sentir que eu não era boa o bastante, que eu não estava a altura de outros grandes perfis, que eu não era interessante o bastante, porque era o que os gurus afirmavam.
O Instagram não passa de uma vitrine comercial onde a maioria briga por atenção de pessoas que não dão a mínima para você. É o chamado GHOST VIEWS! (observadores fantasmas) É estranho acordar e não mostrar cada passo que vou dar no dia. É estranho tomar café da manhã sozinha, ler sozinha e não partilhar aquele trecho destacado no Kindle. É estranho ir para a academia e não gritar aos 7 cantos do mundo que o treino foi finalizado. Mas é ainda mais gostoso ter a minha privacidade preservada.
As pessoas se matam para criar um conteúdo bom que depois de algumas horas nem vai mais existir, porque a plataforma vai fazer ser como se ele nunca tivesse existido. Sei que essas são regras do jogo, mas de um jogo que cansei de jogar e não quero mais.
Tem sido diferente viver sem ter o Instagram de fundo. Parece que as coisas aqui na vida real ganharam tons mais fortes, o silêncio conversa comigo, ouço os pássaros pela janeira toda manhã, escuto lo-fi enquanto escrevo, leio com presença. Deixo o celular em outro cômodo, e não abro 1374637 vezes o aplicativo só para saber se o algoritmo foi bonzinho comigo dessa vez.
Isso não quer dizer que vou sair totalmente das redes sociais. Tenho projetos para o YouTube, o Pinterest, a Newsletter & agora o blog, tudo porque eu cansei de ser obrigada a ser superficial em uma rede social repleta de GHOST VIEWS. Ocasionalmente, apareço por lá para dar um sinalzinho de vida e dizer que não virei uma lenda urbana. Só quero voltar a viver com a mesma inspiração, presença e leveza de antes. Como? A terapia vai me ajudar.
Ter sido tão seduzida pelo Marketing Digital só me trouxe ansiedade, estresse & depressão. Tirando o fato de ter sido tão boba e emocionalmente frágil, me arrependo de cada oportunidade que perdi por acreditar em tantas ilusões, besteiras e promessas milagrosas que ouvi. Hoje sinto a espinha dorsal tremer quando vejo um anúncio mostrando aqueles resultados que brilham os olhos de qualquer um, e fico me perguntando quantas vivas vão deixar de ser vividas para alcançar um estilo de vida repleto de ostentação, de dinheiro “fácil”, de casa na praia, de trabalhe 4 horas por semana, de viagem quando você quiser.
Até que gente começar a acreditar que todo mundo é bem-sucedido, que todo mundo é rico, todo mundo está fazendo dinheiro enquanto dorme, todo mundo está empreendendo, menos você. É o que eles querem que você pense, porque assim você vai virando um zumbi sem ter consciência de suas escolhas e passa o cartão mais fácil. Pode ter certeza, é uma parcela mínima da sociedade brasileira que está sendo bem-sucedido na internet, que está empreendendo com o digital. MÍNIMA. Não é todo mundo. É um número insignificante, mas o tanto de anúncio que você vê, parece que são todos, menos você.
A maioria de nós está se matando para concluir os últimos períodos da faculdade. Está tendo que se esforçar muito, mas muito mesmo para finalizar o mestrado. Ou está se aperfeiçoando para mudar de emprego, ou economizando para conseguir pagar o aluguel no final do mês. E não há vergonha nenhuma nisso. É muito honrado.
É isso, aqui é mais uma tentativa minha de fazer um detox, e tirar toda aquela crosta de sujeira, cobrança, comparação & angústias que ficou grudada na pele nesses últimos anos. Sei que talvez eu nunca mais consiga ser a Luana que eu era, antes de toda essa bagunça e caos me alcançar, mas posso tentar ser uma versão mais inteira e fiel a mim mesma, posso ser uma versão minha melhorada. As cicatrizes vão continuar, é claro. É tipo uma marca das batalhas - vencidas e perdidas - que batalhei por nada, mas que me fizeram ser um pouco mais resistente para enfrentar as sequelas e consequências do depois.
Esse blog é a minha tentativa de me tirar dos buracos que me enfiei e me resgatar de algum lugar que fiquei, e se você está lendo isso, obrigado pela intencionalidade e presença aqui.
Até breve ☕
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirObrigada por traduzir em palavras tanto sentimento. Me identifiquei muito mais do que gostaria. Aguardo ansiosamente os próximos textos. <3
ResponderExcluirOlá Bruna, não sabe o quanto é importante que esse texto tenha chegado até você. Sei que muitas pessoas podem se identificar e se reconhecer no que eu compartilhei com toda essa minha experiência. Em breve virão mais 📝
ExcluirMt real! Ler isso foi só reforça ainda mais a minha vontade d excluir o insta! N trabalho com ele, mas até na parte pessoal o insta cria métricas, aff, rede do mal kkkkkk
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