Depois que abri mão do Instagram e de toda aquela bolha de comparação, cobrança e insatisfação com a vida que vinha de ver stories, descer o feed ou acompanhar pessoas que passavam a ideia irreal de “vida perfeita”, estou redescobrindo a minha própria felicidade e resgatando a minha satisfação com a vida offline e as coisas que existem aqui no mundo real. Tenho registrado todo esse resgate em um mini-caderno e tudo aquilo que me inspira, ativa a minha criatividade e me dá um sentido a mais para viver.
É muito difícil definir o que é felicidade, e faz todo sentido. Já que somos seres multifacetados e únicos, cada um carregando as suas próprias dores, frustrações, medos & uma história por trás de todas as nossas escolhas e decisões, cada um de nós tem a sua própria definição do que significa e representa felicidade, assim como cada cultura tem a sua própria ideia de ser feliz. Tanto que a psicologia positiva prefere chamar felicidade de bem-estar subjetivo, porque não existe uma regra ou uma lei quanto a isso.
Mas ao longo de tudo o que vivi nos últimos anos, sair do quintal da minha mãe e morar em uma vizinhançada mais distante com o meu marido, concluir a faculdade de psicologia depois de longos 5 anos, quase entrar em um burnout por causa do meu trabalho no Instagram e chegar até aqui hoje, me dei conta de que felicidade não é um estado permanente do ser humano, mas sim um estado de espírito transitório que surge a partir de como escolhemos viver a nossa vida e a maneira como vamos reagir & decidir a cada fase.
Para dar um toque científico a essa minha própria ideia, a psicologia positiva apresenta dois conteúdos fundamentais: felicidade hedônica e felicidade eudemônica. Essas duas definições, que talvez você nunca tenha ouvido falar antes, se referem como a gente percebe e busca a felicidade no dia a dia. São duas maneiras diferentes de entender o que nos faz realmente felizes e o meio no qual essa felicidade será alcançada.
A felicidade hedônica faz sentido quando associamos a felicidade à busca constante pelo prazer, seja por meio de compras, bens materiais, relacionamentos, comida, sexo ou drogas e a redução de qualquer desconforto ou sofrimento. Aqui buscamos minimizar quaisquer experiência desagradável e tendemos a associar a felicidade com o imediato, aquilo que é instantâneo e que não exige esforço e nem desconforto no curto prazo.
Já a felicidade eudemônica, está relacionada a um cultivo mais profundo da felicidade baseando em virtudes, propósito, potencial & desenvolvimento. Nela, o que garante a sensação de propósito de vida é o foco no autodesenvolvimento de si, crescimento pessoal e contribuição para a sociedade, usando potenciais, valores pessoais e orientando-se com base em objetivos de longo prazo e a atribuição de significado ao sofrimento, fases desafiadoras e dificuldades.
O bem-estar subjetivo que buscamos envolve cultivar um desequilíbrio intencional - que pende mais para a felicidade eudemônica do que para a hedônica. É importante abrirmos espaços para pequenos prazeres imediatos ao longo da nossa vida, como comer uma comida gostosa, tirar uma soneca a tarde ou passar umas horas jogando vídeo, mas durante o processo, também focar no nosso desenvolvimento pessoal, objetivos para o futuro e engajamento com a vida & as pessoas ao redor.
Agora que você já sabe tudo isso, aqui vai a minha lista com 10 ações, escolhas e rituais capazes de trazer para a nossa vida, mais doses de significado, propósito e intenção:
1. Se tornar consciente de que você não é os seus pensamentos
Um dos filósofos antigos, que não me recordo o nome, disse que o sofrimento está mais na nossa mente do que nas situações que vivemos. A maneira como enxergamos, interpretamos & analisamos as coisas que nos acontecem no dia a dia é responsável por ativar sensações físicas e emoções, que por sua vez, desencadeiam respostas comportamentais. Ou seja, tudo começa na mente.
Não é porque pensamos de um jeito ou acreditamos em algo, que isso se torna automaticamente verdade e vai ser assim na realidade. Nossos pensamentos tem o poder de nos pregar peças e muitas vezes de nos fazer enlouquecer. Se não estivermos atentos e questionando aquilo que se passa pela nossa mente e criando um filtro para interpretar da maneira mais alinhada possível e com menos distorções, passamos a acreditar em várias pequenas mentiras que nossa mente nos conta: “não sou capaz, não sou o suficiente, não vai dar certo, ninguém me ama, é sempre comigo, etc”
2. Fazer algo pela simples paixão & entusiasmo
Quando foi a última vez que você tirou um tempinho nos últimos meses ou semanas para se dedicar a alguma ação ou atividade pelo simples prazer de fazê-la, sem esperar nada em troca ou uma recompensa futura? Pela simples ideia de que estar ali presente já é responsável por fazer você se sentir bem e satisfeita com a vida?
A psicologia positiva chama isso de engajamento, que consiste no envolvimento de atividades que trazem por si uma sensação de satisfação e significado além do cotidiano. É isso o que acontece quando eu escrevo aqui no blog ou saio para passear no parque e estar em contato com a natureza, ou me dedico a pintura terapêutica. Quais são aquelas coisas que naturalmente despertam entusiasmo e paixão em você? Pode ser artesanato, música, dança, pintura, escrita, cuidar de animais, etc.
3. Tomar um banho de sol em silêncio todos os dias pela manhã
É algo tão simples & barato, mas que vale milhões. Eu amo sentar no meu sofá preto de frente com a janela da sala, com uma xícara de chá no colo, meu fone de ouvido para uma longa meditação e o meu kindle para dar continuidade a leitura, enquanto sinto o sol na minha pele, me aquecendo e me inundando de presença.
Existem estudos científicos de que passar alguns minutos no sol assim que você acorda ativa uma região do cérebro responsável por manter o nosso ciclo circadiano funcionando e avisar que já é “dia”, e também é uma maneira de regular o nosso sono a noite. Essa região no nosso cérebro é chamada de núcleo supraquiasmático, e é uma pequena área localizada no hipotálamo. Tomar banho de sol prepara e ativa o nosso corpo para o que virá a seguir.
4. Ler aqueles livros que você gostaria de ler
E aqui eu deixo frisado: os livros que você gostaria de ler. E não os livros que estão na “moda” - embora eu ache que ter livros na “moda” não seja algo tão negativo assim - e nem os livros que todo mundo fala que você deveria ler, ou livros unicamente sobre desenvolvimento pessoal ou relacionado a algo científico.
Quer ler aquele livro de ficção científica? Um livro de poemas? Um romance de época? Um conto de investigação policial? Ou um clássico da literatura brasileira? Leia, mesmo que isso te faça estar fora da caixa ou seguindo por um caminho totalmente diferente do habitual. Existem muitas imposições desnecessárias sobre o hábito da leitura, que algumas vezes esquecemos que ler precisa ser algo prazeroso, inquietante & transformador, independente de qual gênero você escolha.
5. Se desafiar a fazer algo novo ou se aperfeiçoar em algo que você já faz
Esse "se desafiar" não precisa ser algo absurdo e de outro mundo, como pular de paraquedas ou escalar uma montanha. Pode ser algo que te tire da sua zona de conforto dentro da sua realidade, porque desafios são subjetivos e dizem respeito ao que você está vivendo hoje. Para mim hoje me desafiar é vencer a minha insegurança e timidez na academia, gravar os vídeos semanais para o YouTube e priorizar a minha saúde mental em meio a toda bagunça e caos que ocasionalmente dá as caras por aqui.
6. Ter objetivos claros para a sua jornada
Objetivos são luzes na nossa jornada. Ter clareza do que buscamos, daquilo que queremos alcançar, de onde queremos chegar e da pessoa que buscamos nos tornar, nos dar um norte para direcionar nossas ações, decisões e escolhas. Por exemplo, se o objetivo de alguém é fazer um intercâmbio para fora, essa objetivo serve como um filtro para saber que “gastar com aquela blusinha no shopping” não é o melhor caminho.
Se ter clareza do que buscamos no longo prazo, dificulta de tomarmos as decisões certas e alinhadas no momento presente. É como foi dito no filme da Alice no País das Maravilhosas, “se você não sabe para onde ir, então qualquer caminho serve”. Mas se você tem consciência de onde você deseja estar, vai ter automaticamente clareza de que nem todos os caminhos e trajetos vão te levar até lá ou te deixar mais próximo.
7. Passar tempo de qualidade com as pessoas que você ama
Tempo de qualidade não significa apenas fazer com que dois corpos ocupem o mesmo ambiente. Muitas vezes estamos presentes fisicamente, mas com a nossa mente pairando e viajando para lugares, pessoas & situações bem distantes. Quando você passa tempo com os seus filhos, com o seu parceiro, família ou pets, você está realmente presente de corpo e alma, observando os detalhes, dando sentido a cada gesto e voz, com total percepção das falas e expressões, ou é sempre com o celular na mão e alheia ao mundo?
Começar a fazer isso vai diminuir aquela pressa e sensação de urgência e sobrecarga. Quando parei de colocar o Instagram como fundo de todos os momentos da minha vida e de ter de pausar para escrever uma legenda ou escolher um filtro, parece que tudo flui com muito mais calma e tranquilidade, inclusive nos momentos em família.
8. Fazer mais & esperar menos
Eu vejo muitas pessoas adoecendo esperando que o governo mude, a educação mude, a situação financeira do país mude, a família mude, o parceiro mude, os filhos mudem, que quem está de fora percebe que a vida se tornou um constante modo de espera. Desde que me dei conta de que agir mais, se dedicar mais, se comprometer mais, se doar mais, se esforçar mais, e esperar menos das situações, pessoas & acontecimentos, trouxe muita paz e leveza para os meus dias, é o que tenho levado como mantra.
Esse esperar menos NÃO SIGNIFICA não ter expectativa ou não querer/desejar que coisas boas aconteçam como efeito, mas é apenas ter consciência de que tudo ao redor apenas muda se formos nós os catalisadores da mudança, e que ela começa dentro e não apenas fora. Quando a gente inverte e muda a ordem, começamos a cobrar muito mais do outro do que de nós mesmos: “ele não veio falar comigo, não mandou mensagem, não se inscreveu no canal, não fez aquilo, não disse sim, etc”.
9. Ter uma relação saudável com o seu corpo
Antigamente, quando eu não tinha uma alimentação saudável e ficava colocando para dentro um infinidade de industrializados, eu me sentia pesada no sentido subjetivo da palavra e sem energia para muitas das coisas que eu queria me dedicar. Eu carregava aquela sensação de ter algo faltando e de existir um vazio que não sabia como preencher. Isso porque o nosso corpo é nosso veículo aqui na Terra.
É através dele que conseguimos realizar as grandes e pequenas tarefas do dia a dia. Se ele não está sendo nutrido, fortalecido e nem sendo cuidado da maneira que deveria, vamos vivenciar as consequências disso em aspectos emocionais e internos. Cansaço extremo, falta de energia & disposição, preguiça constante, dores de cabeça. O nosso corpo deveria ser o nosso primeiro amor e não o último. É através dele que nos amamos ou nos maltratamos.
10. Agradeça com mais frequência
Nessas últimas semanas eu peguei meu último diário emocional e comecei a folhear as primeiras páginas que datam de agosto até a atual, e me dei conta de uma coisa: passei os últimos meses escrevendo apenas aspectos negativas que aconteceram na minha vida. Entrei em um luto profundo quando me desvinculei do Instagram e desde o começo do ano eu vinha carregando essa insatisfação silenciosa e descontava nas palavras. Não tem nada de ruim em fazer isso.
Escrever, pensar ou visualizar aquelas coisas pelas quais você é grata não vai fazer as ruins não existirem, e nem vai fazê-las doerem e pesarem menos, mas vai te dar a chance de você ter consciência de que é impossível que a nossa vida seja formada apenas de coisas ruins, negativas & desastrosas. É impossível. Se você tomou um banho quente, se você conseguiu preparar o seu chá quente, se a sua cama estava te esperando, se você almoçou, então tem muitas coisas boas acontecendo e fluindo.
Quanto mais a gente esquece de ver que também existem coisas positivas em meio as tempestades, mais ou nossos olhos começam a ver apenas o negativo e o pessimismo.
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