Esse ano me ensinou que o único jeito da sairmos de onde estamos e chegar em outro lugar é sendo egoísta. Não tem outro jeito. Não estou falando do lado pejorativo, cruel ou sanguinário do termo “egoísta”, mas sim de sabermos dizer não, mas não apenas quando alguém te pede um favor e você precisa encontrar um jeito menos embaraçoso possível de recusar, ou sabe que terá que rejeitar um convite para uma festa que você não está com vontade de ir. Estou falando de não deixar qualquer coisa ou qualquer pessoa entrar no seu íntimo, te afetar ou te machucar.

Estou falando de escolher bem onde você vai colocar o seu tempo, a sua energia, o seu estresse ou a sua preocupação. Eu sei que o estresse, a ansiedade & a preocupação vem. É impossível se livrar dessas emoções, não é como trocar de carro quando você já não aguenta mais olhar para ele todo dia, mas podemos fazer igual nossos ancestrais: direcionar o estresse para aquelas coisas que realmente são essenciais, valem a pena e são necessárias. E infelizmente hoje em dia temos dificuldade em entender que nem tudo se enquadra nesses requisitos.

Ser egoísta não significa não ter empatia ou compaixão pelas pessoas ao redor, mas é compreender que existe um limite entre o que fazemos e o que o outro faz, e sempre que não deixamos isso claro o bastante, nos deixamos levar pelos problemas, dores e fracassos dos outros, que dizem mais sobre os outros do que nós mesmas. Você não pode tratar ou ver os problemas dos outros como se fossem seus, ou os incômodos deles, como se fossem os seus. PORQUE NÃO SÃO. Ser egoísta é parar de tentar salvar a todos. PORQUE VOCÊ NÃO VAI.

A maioria das pessoas não querem ser salvas ou ajudadas de verdade, só querem alguém para concordar com elas do quanto a vida é injusta, tudo é difícil ou que cada reclamação que dizem faz sentido, então algumas vezes, não adianta aparecer na frente delas com a solução do problema. 

Se tornar a sua própria prioridade é um processo que envolve, muitas vezes, se afastar de quem te faz mal, de quem deposita sobre os seus ombros pesos que você não deveria carregar. Todo mundo conhece aquela pessoa que é “gatilho de coisas ruins”, que basta abrir a boca e você já sabe que vem um milhão de reclamações, de vitimização & de amargura na forma de palavras, que consome qualquer pingo de vibe positiva no ar. A melhor analogia são os dementadores do Harry Potter

Eu passei muito tempo desse ano me preocupando com os problemas dos outros, e deixei os meus próprios de lado, fui esquecendo de cuidar da minha saúde mental, me permiti ser consumida e violada pelas reclamações dos outros, me perdi dos meus objetivos para tentar colocar os outros em seus devidos lugares. Eu abri espaço para que o outro ocupasse um lugar que não tem direito. Não é meu papel ser a salvadora e resolvedora de problemas alheios. Eu sei que para muitos ler isso é estranho, já que sou psicóloga, mas é diferente e vou te explicar. Eu não sou psicóloga o tempo todo, e outra, ser psicóloga não é algo passivo, exige estratégia, estruturação, maturação de ideias, é um processo totalmente científico. Não é uma conversa em que apenas o outro fala e eu ouço, juntos tentamos traçar um caminho possível em direção aos nossos objetivos terapêuticos.

Tive raiva da Lua que deixou ser tão afetada pelos outros, que sofreu mais do que devia por dores que não eram suas, que se colocou em segundo lugar com tanta facilidade, que permitiu que seu espaço particular fosse invadido e virasse um caos. Mas eu a entendo. É tentador desejar fazer de tudo para agradecer, porque parece que quanto mais formos boazinhas, mais as pessoas irão nos amar e menos teremos a chance de sermos abandonas. Mas eu te digo uma coisa: se permita ser abandonada (você sobrevive a solidão). Não tenho mais raiva da Lua de alguns meses que não respeitou a si mesma ao fazer isso.

Se eu tiver que dizer não, eu vou dizer. Se eu tiver que me afastar para priorizar meus sonhos e objetivos, eu vou fazer. Se eu tiver que me manter longe para preservar a minha saúde mental, eu me manterei longe. Se o caos estiver reinando lá fora, não serei a precursora da paz, pelo menos não mais. Cansei de deixar pessoas que não merecem uma gota do meu estresse me esgotarem, me encherem de responsabilidades & pesos que eu não deveria carregar. Cada um está carregando a sua própria cruz.

O único jeito de sermos boas profissionais, boas mães, boas artistas, bons seres humanos, boas esposas, é sendo egoísta, porque ser egoísta envolve deixar nítido os seus limites, até onde você quer ir pelo outro, até onde vale a pena se perder. Vai por mim, encontrar o caminho de volta depois que você passou tanto tempo absorvendo os problemas de outras pessoas é difícil, você se sente culpado por estar tentando encontrar o seu próprio caminho de volta, se sente culpado por querer voltar a sua estrada.

Quando mais você deixa as suas vontades de lado para satisfazer as vontades dos outros, e essa sua vontade pode ser simplesmente não querer ouvir alguém reclamando, despejando em você as insatisfações e o quanto a vida é injusta, e blá blá blá, ou não querer estar no mesmo ambiente de pessoas “gatilhos de coisas ruins” ou recusar uma ligação, ou não responder alguém imediatamente, mais você está amaciando o ego delas, ao invés de estar ajudando, mais você está criando um “monstro” que vai estar descontrolável demais quando você quiser se soltar.

Ser egoísta é o melhor presente que você pode se dar, vai evitar muitos sonhos jogados no ralo, vai poupar muito estresse desnecessário, vai impedir muita culpa futura & muitos outros processos doloridos na vida. Não abra espaço para qualquer pessoa. Não seja a pessoa sempre disponível que diz sim a tudo e a todos. Não permita que a falta de autorresponsabilidade da sua família, do seu namorado, de qualquer um na sua vida, seja motivo para você se afastar de si mesma tentando consertar as partes quebradas deles quando NÃO É A SUA FUNÇÃO FAZER ISSO.

Ser a pessoa sempre disponível não passa respeito. Isso passa a mensagem de que os seus próprios sonhos & objetivos não são tão importantes assim, como alguém vai aprender a te levar a sério se toda vez que elas precisarem, você vai estar lá? Esteja tão focada nos seus objetivos, seja tão obcecada pela vida que você quer viver e por construir uma história diferente para você, que elas automaticamente vão entender o recado. Uma pessoa realmente não se distraí por qualquer coisa.

Vá viver sua vida, e pare de pausá-la para resolver problemas que não são seus, toda vez que ouvir um grito de socorro. Faça a sua parte, mas entenda que limites, além de saudáveis, são essenciais. Dê uma solução, mas não fique se remoendo se o outro não aceitar. Mostre um caminho, mas não tente caminhar o trajeto por eles.