Eu sei que falar sobre a morte é algo que assusta, causa pânico em algumas pessoas e gera bastante desconforto, mas desde que aprendi a meditar sobre a morte, consegui desenvolver clareza de uma infinidade de pontos na minha jornada que antes pareciam nebulosos e confusos.
Acredito que a principal dificuldade das pessoas em considerar esse tema como essencial de ser discutido e abordado, é a ideia de que “pensar sobre isso vai atrair algo ruim”. Eu também já tive uma época em que acreditava fielmente em coisas como "lei da atração", acreditava com todas as minhas forças que aquilo que eu pensava estava atraindo certas coisas, situações e vivências fora de mim para a minha realidade.
A única coisa que a ciência conseguiu provar é que nossos pensamentos, crenças e interpretações que fazemos de nós mesmos, do mundo e das experiências que vivemos geram certas emoções adaptativas ou desproporcionais, e essas emoções são impulsionadoras de certos comportamentos e ações, alguns úteis e outros nem tanto. Esse processo é conhecido como Modelo Cognitivo na Terapia Cognitivo Comportamental.
Nada do que você pensar vai “atrair” algo para a sua vida. Muitas vezes o que as pessoas chamam de “atração”, é, na verdade, o filtro mental (distorções cognitivas) delas selecionando certas contingências, evidências e dados que confirmam pensamentos, interpretações e crenças disfuncionais que elas possuem. Então, se você começar a pensar e refletir sobre o processo da morte, isso não vai fazer o universo mexer pauzinhos para atrair coisas ruins para a sua realidade.
Sempre vi a morte como o oposto da vida, mas, na verdade, ela é o oposto do nascimento.
Desde que comecei a estudar a filosofia estoica, e lido autores como Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio, as maiores figuras do movimento filosófico conhecido como estoicismo, tenho me deparado com vários textos, meditações & cartas desses autores dialogando e partilhando uma visão que nunca havia pensado antes, a respeito da morte.
Todos os dias tenho acordado e pensado nesse fato impassível de mudança: a vida é finita. Separo alguns minutinhos toda manhã para meditar sobre o fato de que, um dia, eu não estarei mais aqui, ou seja, irei morrer. Um dia tudo isso se tornará cinzas, passado & memória. Um dia, eu não poderei mais encarar o nascer do sol nos dias em que acordo super cedo, ou olhar pela janela de casa e ver o céu brilhando em azul forte com vários pontinhos brancos dispersos por ele, um dia não sentirei mais o gosto da minha dose matinal de café na xícara que ganhei de presente de aniversário há um ano, um dia não sentirei mais a água quente escorrendo pelo corpo depois de um dia agitado, um dia não haverá mais o toque suave, acolhedor e único do meu parceiro, nem mesmo o beijo, o abraço, o sorriso.
Se fosse antes, isso iria causar muita insegurança, ansiedade & angústia. Hoje, pensar sobre isso, me traz uma paz e um direcionamento que nada mais conseguiu. Quanto mais pensamos sobre a morte, mais nos deparamos com a finitude, e graças a finitude, mais conseguimos valorizar cada segundo dessa experiência, mais temos um filtro mental para entender o que vale a pena focar, priorizar e abrir mão. Mais eu quero fazer essa experiência - tão curta - valer a pena. Mais eu tenho curiosidade, vontade e força de vontade para mergulhar em cada espaço da minha vida. Pensar na morte, me faz ter entusiasmo para viver a vida ao máximo.
E o mais importante, me dá um norte para tomar decisões difíceis. Quando olho os meus problemas sob essa perspectiva, tudo fica tão nítido, claro e simples. Parece que fica óbvio a escolha que devo fazer, o que priorizar, o que deixar para depois, o que manter, o que descartar. O objetivo deve exercício é encontrar algumas respostas para perguntas inquietantes que todos nós carregamos ou nos fazemos em determinados momentos: “COMO TORNAR A MINHA VIDA MELHOR?”
Eu acredito que todas as pessoas deveriam desenvolver o hábito diário de pensar sobre a própria morte. Acordar e refletirem por alguns minutos nesse fato. No começo, pode ser estranho, esquisito e inquietante, mas com o passar do tempo, você tem aquele choque de realidade absurdo, e passa a se dar conta de que existem tantas coisas que damos valor são, na realidade, indiferentes e insignificantes, passamos a ver que desejamos coisas que não são do coração, mas decorrentes de pressões externas, status, comparações, medos, etc. Grandes preocupações que achávamos que seriam o fim do mundo, passam a ser vistas sobre novas lentes, com muito mais leveza, paciência & coerência.
Pensar sobre isso não deve ser motivo para paralisar, ser passivo e não escolher fazer mais nada, já que tudo um dia vai acabar, e nem levar para o outro extremo, e tomar decisões imprudentes, imaturas e erradas, é justamente o contrário. Devemos usar o pouco tempo que temos, literalmente, para viver melhor, para fazer escolhas conscientes, para desfrutar da vida o melhor possível e saber abrir mão daquilo que está consumindo, destruindo, matando e nos afastando do é importante, essencial, indispensável & inegociável.
A vida acaba. Ela tem um ponto final. Ela é finita. Ela não existirá para sempre. Se não estamos prontos para encarar esse fato com maturidade, tão pouco estamos preparados para viver a vida com totalidade. Há tantas coisas sem importância da nossa vida, que se já estivéssemos habituados a adotar essa postura reflexiva e contemplativa da morte, daríamos mais valor a outras e teríamos coragem para muitas outras. Existem poucas coisas que importam de verdade. Pouquíssimas.
Pagamos as coisas não com dinheiro e nem com horas, mas com a vida. Desenvolver essa consciência total sobre a morte vai te fazer enxergar a vida e o que nos resta dela, de uma perspectiva totalmente diferente e nova.
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