Eu acho que essa é uma das perguntas que eu mais recebo semanalmente pelas pessoas que me seguem, meus pacientes, alunas e quem acompanha meus conteúdos: como se tornar uma pessoa mais focada? E sinceramente, esse é um tema que “mexe” comigo; pois muitas vezes eu vejo as pessoas esperando respostas mirabolantes, extraordinárias e mágicas de como resolver a falta de foco, e basta que o básico bem feito seja realizado.

Primeiro ponto que preciso deixar claro é que melhorar o nosso foco é algo treinável, ou seja, se algo é possível de ser adquirido através da prática, entendemos que exige comprometimento, ação & intenção. Criar mais foco para a nossa vida não é algo que vai cair do céu ou será entregue “facilmente” para nós, pois é uma construção que exige dedicação e esforço, mas saiba que é possível.

Não sei se você já parou para pensar nisso, mas sabia que acessamos uma quantidade de conhecimento, informação & dados ao longo de um ano que os nossos ancestrais demoravam uma vida inteira para aprender? Pode parecer que já deveríamos estar habituados a tanta informação, mas infelizmente não estamos.

O que estamos vivendo nos últimos anos, esse boom de conhecimento que acessamos desde o crescimento da internet, não equivale nem a 1% da história do ser humano. A espécie Homo sapiens tem em torno de 200 mil anos, ou seja, ainda não deu tempo das nossas estruturas cerebrais evoluírem a ponto de conseguir “lidar” com a quantidade de estímulos que recebemos hoje a cada segundo.

A cada segundo de nossas vidas, somos bombardeados de estímulos do ambiente, seja através da internet, redes sociais, músicas, propagandas, vídeos, sons. Estamos na maior parte do tempo colocando uma quantidade infinita de informações sensoriais para dentro, sem descansar a nossa mente por um único minuto.

Não conseguimos ficar sem fazer nada em uma fila de supermercado que já pegamos o celular para ocupar o nosso tempo, ou sempre tem uma música ligada enquanto esperamos a nossa vez em uma consulta médica, sempre tem uma televisão ligada em qualquer ambiente onde estamos. Como focar se estamos o tempo inteiro ocupando e bombardeado a nossa mente de tantos estímulos?

A nossa mente se recarrega através do silêncio e não de maneira passiva descendo o feed das redes sociais, deixando a televisão ligada de fundo ou absorvendo um milhão de informações externas através da internet. O cérebro descansa através do tédio, do ócio e "do olhar para o teto sem fazer nada". Lembre-se, esse cenário que construímos para nós é incompatível evolutivamente com a capacidade do nosso cérebro. Quem sabe nos próximos 200 mil ele estava mais preparado.

Sempre que alguém me fala que se esquece de eventos importantes, datas e compromissos, eu pergunto se essa pessoa usa agenda, planner ou algum calendário para se lembrar dessas coisas essenciais, porque ESQUECER é absolutamente normal. Nosso cérebro não vai se lembrar de tudo, não mesmo. Toda vez que você tenta “obrigar” a sua mente a se lembrar de tudo o que precisa ser feito ao longo dos próximos dias, você está sobrecarregando uma região chamada Córtex Pré-Frontal.

Se eu não uso a minha agenda como ferramenta para me ajudar a manter o comprometimento nos meus horários, e eventos com hora marcada, eu com certeza esqueceria tudo, e isso é absolutamente comum. Isso acontece com qualquer pessoa, e não quer dizer que você tem um péssimo foco ou tem uma memória horrível. Qualquer pessoa que tente fazer isso, vai falhar. Nosso cérebro não foi feito para se lembrar de tudo, mas sim para criar coisas incríveis, usar a criatividade, para ter novas ideias & inovar, mas não para se recordar de tudo.

Quando você começar a usar uma agenda, um bloco de notas, um calendário com avisos e notificações, você vai estar abrindo espaço para a sua mente focar em todas aquelas coisas realmente úteis, importantes e essenciais. Deixe que a sua agenda, seu planner, seu Google Calendar, seu Trello ou e-mail, te lembre dos horários, e deixe a sua mente em paz para focar no que importa de verdade.

Pessoas que dormem mal são menos focadas. Existem vários estudos e pesquisas que mostram que os efeitos de uma péssima noite de sono ao longo do dia são evidentes, além de contribuir para comportamentos impulsivos, a nossa capacidade de focar diminui. Foi realizado um estudo científico randomizado com três grupos de pessoas. 

O primeiro grupo dormiu entre 8 e 9 horas. O segundo dormiu pouco menos de 6 horas. E o terceiro grupo não dormiu. O mais engraçado é que foi perguntado ao primeiro e segundo grupo como achavam que estava o foco, a concentração, a memória e a capacidade de prestar atenção, e ambos os grupos responderam que acreditam que NÃO haviam sido afetado em nada.

Após isso, os pesquisadores induziram vários testes, avaliações e métodos para mensurar os aspectos ligados a atenção e foco, e o grupo que dormiu menos de 6 horas, teve a sua memória, atenção, concentração e foco AFETADOS por dormirem pouco, mesmo eles achando que estava tudo certo e não tinham sido afetados. O terceiro grupo, que não dormiu, foi tão ruim quanto o segundo, e o único que apresentou bons resultados nesses constructos, foi o primeiro, que dormiu entre 8 e 9 horas.

O seu foco dificilmente vai melhorar, a sua memória nunca vai funcionar bem, a sua atenção jamais será a das melhores, se você não cuidar do seu sono. Quando dormimos, o nosso cérebro consolida memórias, as informações que adquirimos durante o dia são organizadas e armazenadas, as conexões sinápticas entre os neurônios são feitas, e isso nos ajuda a manter os sistemas funcionando com excelência.

Sim, a alimentação desempenha uma função importantíssima no seu foco e concentração. Não vou me atendar a esse tópico, pois eu não sou nutricionista para expor exatamente o que acontece conosco quando comemos mal, quando temos uma alimentação desequilibrada, ou ingerimos muitos alimentos industrializados, ricos em gordura ou sem os nutrientes necessários que precisamos.

Quando inserimos muito açúcar, muito acima do recomendado, esse açúcar é transformado em glicose e liberado na corrente sanguínea, e a partir disso, o corpo libera insulina, um hormônio que ajuda as células a absorverem a glicose no sangue, isso proporciona uma sensação temporária de energia e alerta, porém quando essa glicose é absorvida, os níveis de açúcar no sangue caem abaixo no normal, o que gera uma sensação de cansaço e fadiga, já que o cérebro não está recebendo a energia necessária.

Uma alimentação baseada em gorduras saturadas e trans (presentes em muitos alimentos industrializados) aumentam a inflamação no corpo e no cérebro. Essa inflamação está associada a problemas cognitivos, incluindo dificuldades de foco e memória. Alimentos industrializados são pobres em nutrientes essenciais, como vitaminas e minerais, que são importantes para o funcionamento adequado do cérebro. A falta desses nutrientes pode afetar a função cognitiva.

Toda vez que você abre as redes sociais, principalmente nos momentos em que você começa a rolar o feed do Instagram, Facebook, TikTok, você é bombardeado de estímulos sensoriais, como sons, imagens, vídeos, informações, etc., isso está sobrecarregando o seu cérebro de uma maneira que se torna muito desafiador para ele processar tanta informação nesse fluxo interminável.

Se você acha que você está descansando nos momentos em que deita na cama, entra nas redes sociais e dedica alguns minutos para usá-las de maneira automática e não intencional, você está, na verdade, obrigando o seu cérebro a processar uma infinidade de informações, estímulos, dados & conhecimento que vai apenas te deixar mais cansada e exausta.

A meditação é uma das maneiras mais simples, práticas e possíveis de praticar o foco. E já deixo avisado que meditar não é apenas para pessoas naturalmente calmas, zen e tranquilas. Na verdade, pessoas estressadas, com rotinas caóticas e um processamento cognitivo acelerado, são as que mais devem se beneficiar da prática da meditação.

Quando meditamos, estamos escolhendo não prestar atenção em cada um dos pensamentos automáticos que surgem na nossa mente, estamos escolhendo não focar nas narrativas mentais sobre o passado e nem se permitindo ser sequestrado pelas preocupações futuras. Estamos optando por retornar a nossa consciência ao momento presente, ao aqui e agora, fazendo isso através da nossa respiração.

Não existe uma chave mágica que faça com que os nossos pensamentos se silenciem ou deixem de existir; por mais que a gente queira deixá-los em off e stand by, isso é impossível, e até mesmo quando meditamos, os pensamentos vão continuar surgindo na nossa mente, porém durante a meditação, passamos a praticar a nossa capacidade de voltar a nossa atenção ao momento presente ao invés de nos permitir sermos sequestradas por aquele fluxo constante de julgamentos, memórias, críticas e dilemas.

A meditação nos ajuda a trabalhar o foco na nossa respiração em meio as distrações da nossa mente. Muitas de nós vivemos mais dentro de nossas cabeças e mentes, do que realmente vivendo e experienciando a vida como ela realmente é aqui no mundo real. Claro que isso tem um impacto considerável quando precisamos focar algo na nossa rotina.

Como eu já falei ali em cima, estar na frente da televisão maratonando a sua série favorita, ou descendo o feed do Instagram, não é exatamente estar descansando, claro que não existe mal nenhum em fazer isso quando fazemos com consciência e de maneira intencional, mas a maioria de nós esquece que atividades como essa, por mais que pareçam relaxantes, não proporcionam o descanso mental necessário e podem até aumentar o cansaço físico e psicológico. Eu, pelo menos, já tive aquela sensação, após assistir longas e longas horas de episódios, de estar ainda mais exausta do que quando comecei a maratonar.

Em vez disso, se envolva em atividades que exijam um envolvimento consciente e ativo, como a prática de exercícios físicos mais leves, seja através de uma caminhada, uma sessão de ioga ou alongamento, meditação, leitura leve, ou hobbies criativos como pintura, jardinagem ou montar um quebra-cabeça, até palavras-cruzadas. Como essas são atividades ativas, que exigem ação, movimento e engajamento, elas oferecem uma estimulação cognitiva, diferente do descanso passivo, no qual algumas áreas do cérebro permanecem inertes durante todo o processo.

Quando praticamos um descanso ativo, damos ao nosso cérebro a oportunidade de se recarregar de forma mais eficiente, melhorando o bem-estar geral e a capacidade de enfrentar desafios cotidianos com maior foco e resiliência.

O mais triste é que muito disso não é levado para a prática. Temos valorizado tanto o conhecimento, que esquecemos que o melhor acontece quando somos impulsionados a colocar em ação nossos aprendizados, porque, de fato, é o movimento consciente que nos transforma e gera mudanças em nossa vida, e não apenas acumular dados, informações e conhecimento, porque isso vai gerar o efeito de obesidade mental.

O que aconteceria se você não parasse nunca de comer, e mesmo já satisfeito e cheio, continuasse comendo sem parar? Tenho certeza que você passaria muito mal e isso traria consequências desastrosas para a sua saúde. É exatamente isso o que estamos fazendo com a nossa mente: ingerindo um milhão de informações sem direcionarmos para a prática ou sem esperarmos para digerir, absorver e refletir sobre o que aprendemos. Sempre que leio um livro, por exemplo, eu reflito, medito, escrevo, analiso, pondero e trago para a minha realidade, mas se leio um atrás do outro, sem pausa, sem descanso, sem prática, é como se eu ficasse o tempo todo exausta.

Quais dessas ações você vai implementar na sua vida a partir de hoje para melhorar o seu foco?

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