Eu acredito que qualquer pessoa em sã consciência admita que gosta de sentir emoções positivas, mas você já se perguntou qual a função delas para a nossa sobrevivência e, por que as emoções positivas foram escolhidas pela seleção natural? Estudar de uma maneira científica as emoções positivas é um dos pontos-chave da Psicologia Positiva, já que toda a história da psicologia se debruçou em se aprofundar e explorar as emoções negativas e exclusivamente os aspectos negativos da humanidade. 

As emoções positivas desempenham um papel essencial e adaptativo na evolução do ser humano, igualmente importante comparada as emoções negativas. As emoções negativas estão ligadas à sobrevivência pela sua tendência de ação específica de ativação, como, por exemplo, medo-fuga; raiva-ataque, etc; sentir ansiedade é um alerta do nosso corpo/mente de que precisamos nos preparar para algo que irá acontecer no futuro ou fugir de algo que interpretamos como uma ameaça; sentir raiva é um impulso para protegermos aquilo que consideramos importante nos momentos em que somos atacados, desrespeitados e temos que impor algum limite.

Toda emoção negativa é ativada em resposta a estímulos específicos do ambiente, que podem ser externos (pessoas, objetos, situações, etc.,) ou internos (sensações corporais, memórias, pensamentos, etc.) ou ambos. Nenhuma emoção vem do nada e aparece como num passe de mágica no nosso sentir. Uma vez que percebemos e interpretamos qualquer estímulo do ambiente, vários sistemas e órgãos internos operam em conjunto para criar o que você reconhece como emoção, e em consequência, vivenciamos algumas reações fisiológicas no processo, como alteração da frequência cardíaca, expressões faciais, mudanças na respiração, secreção hormonal, tensão muscular, etc., além de reações cognitivas, como mudanças na nossa atenção, autoconsciência, percepção, etc.,

Mas e quanto as emoções positivas? Qual a real função delas? Da mesma maneira que emoções negativas são úteis para a nossa sobrevivência, as emoções positivas também são, já que a principal função delas, moldadas por milênios de seleção natural, é construir recursos para a sobrevivência, porém em uma “janela temporal” diferente, em outras palavras, em intervalos de tempo distintos. Mas como assim?

Emoções negativas são voltadas para o curto-prazo, já que nos preparam para os instantes mais próximos, para resolvermos questões imediatas e que estão acontecendo agora ou solucionar problemas que poderão acontecer nos próximos instantes. 

Emoções positivas são voltadas para o longo-prazo, já que elas nos preparam para o futuro através da construção de recursos duradouros que serão úteis nos próximos meses/anos, como resiliência, a capacidade de ampliar e melhorar as habilidades cognitivas, sociais e comportamentais.

Barbara Fredrickson, uma das pesquisadoras mais influentes quando o assunto são as emoções positivas, aponta que as emoções positivas caracterizam o funcionamento ideal e promove mais florescimento na nossa vida, da mesma maneira que emoções negativas caracterizam os transtornos, como a depressão e a ansiedade, e funcionam como uma maneira de gerar ainda mais emoções negativas.

Pesquisam definem a função das emoções positivas como AMPLIAR E CONSTRUIR, e esses dois termos são realmente importantes para entender o propósito delas. 

O efeito “ampliar” diz respeito a como as emoções positivas ampliam o conjunto de pensamentos, impulsos de ação e percepções que vêm espontaneamente em mente. E vou dar um exemplo a partir da emoção do INTERESSE (sim, o interesse é uma emoção, caso você não saiba). O interesse é uma emoção que é ativada quando reconhecemos as circunstâncias ao nosso redor como capazes de oferecer alguma novidade. Sentimos interesse quando encontramos algo que é desafiador e misterioso, como quando nos deparamos com um novo conhecimento, e nos sentimos seguros para explorar essa novidade. Essa emoção, quando presente, gera o que chamamos de pensamento-ação, que é uma tendência a um determinado comportamento, que no caso do interesse, é a vontade de explorar, aprender, mergulhar na novidade, e expandir o self ou seu autoconceito. E qual recurso durável está sendo construído a partir dessa emoção? Com certeza, o conhecimento adquirido.

Pessoas que experimentam emoções positivas mostram padrões de pensamento que são notavelmente “diferentes”. Nos vários estudos realizados tentando explorar mais a fundo o propósito das emoções positivas, se nota que pessoas que vivenciam mais emoções positivas são mais:

1. flexíveis e inclusivas
2. criativas
3. integrativas
4. abertas para a informação
5. eficientes

As emoções positivas também tem o efeito de CONSTRUIR. Existem diversas pesquisas realizadas através de ensaios clínicos que mostram que as emoções positivas ajudam a construir recursos intelectuais, como resolução de problemas, capacidade de aprendizado, abertura para novas experiências. Elas são úteis para construir recursos físicos, como melhor saúde cardiovascular, função imunológica, estilo de vida saudável. Também são importantes para construir recursos sociais, como a capacidade de interagir, construir confiança, ações pró-sociais, interação. E também recursos psicológicos, como enfrentamento, resiliência, busca de objetivos. 

Todos esses recursos, construídos a partir das emoções positivas, aumentam nossa saúde, longevidade e bem-estar, nosso desempenho e relacionamentos, conforme as descobertas da Barbara Fredrickson (2023). E o melhor, esses recursos são duráveis, já que os seus benefícios e efeitos permanecem presentes mesmo que as emoções tenham sido transitórias, como também podemos recorrer a esses recursos, como os que citei anteriormente, em diferentes momentos da nossa vida, e usá-los ao nosso favor.

Também temos o efeito da ESPIRAL ASCENDENTE. A medida que vamos acumulando novos recursos provenientes das emoções positivas, esses recursos induzem e geram mais emoções positivas, que faz com que esse processo ocorra em ciclos, e com isso, as emoções positivas levam a mudanças constantes nos nossos comportamentos, pensamentos e nossa saúde no geral.

No caso de pessoas depressivas, elas vivenciam o processo oposto, chamado de ESPIRAL DESCENDENTE, em que o humor deprimido e o pensamento pessimista levam a uma piora de seu quadro, levando a uma depressão ainda intensa, porém as emoções positivas podem interromper essas espirais descendentes e desencadear uma espiral ascendente.

O efeito DESFAZER diz respeito ao fato das emoções positivas representarem um antidoto contra as ativações fisiológicas produzidas por emoções negativas. Por exemplo, em relação ao estresse crônico, que representa um alto risco para a saúde, as emoções positivas apresentam uma grande capacidade de “equilibrar” essa ativação e oferecem uma chance maior de recuperação. O mais incrível é que Fredrickson (2013) aponta em uma de suas pesquisas que as emoções positivas estão associadas a menos dor e à capacidade de combater ou se recuperar mais rapidamente de doenças ou lesões, como doenças cardiovasculares.

E, por que focar em cultivar mais emoções positivas? Lógico que farei em breve um post explicando um pouco mais sobre as principais emoções positivas e como podemos cultivá-las através de ações intencionais. 

Infelizmente, na ciência, “o mal é mais forte que o bem”, no sentido de que ocorrências psicológicas negativas são mais poderosas do que ocorrências psicológicas positivas, ou seja, eventos negativos (como perder dinheiro) tem um impacto mais forte sobre nós do que eventos positivos da mesma intensidade (ganhar dinheiro). Devido a razões evolutivas, informações negativas, problemas nos relacionamentos, perdas e emoções negativas atraem muito mais atenção do que informações positivas, relacionamentos agradáveis, ganhos ou estados emocionais positivos.

Sabendo disso, é muito coerente e alinhado olharmos para a maneira como cultivamos emoções positivas, e as percebemos no dia a dia. Como eu sempre falo, não ter emoções negativas não é a mesma coisa que cultivar e vivenciar emoções positivas.

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