Hoje, eu não quero uma carreira, pelo menos não mais. Passei os últimos anos tentando me encontrar profissionalmente & eu falhei, em quase tudo o que tentei. Não acredito que os meus fracassos tenham sido em vão, porque cada um me mostrou todas às vezes em que fui infeliz lutando por algo que nunca foi capaz de me preencher ou dar sentido a minha vida.
Mesmo tendo um mapa em mãos, mesmo carregando um caminho traçado para o futuro, mesmo sabendo todos os passos, etapas e ações que eu precisaria cumprir para chegar nesse lugar dos meus sonhos, eu percebi que talvez não seja dentro de uma carreira que eu vá me encontrar, que eu vá finalmente me sentir bem comigo mesma e com a vida.
Eu sempre acreditei que chegar lá bastaria para eu ter o meu punhado de felicidade. Coloquei muita fé na ideia de que reconhecimento, dinheiro & status profissional me faria acordar todos os dias sorrindo, alegre e satisfeita. Passei muito tempo me sentindo inferior e atrasada por não ter uma carreira bem sucedida que me proporcionasse bens materiais, ou pagasse todas as minhas viagens, ou que bancasse um estilo de vida que os gurus da internet me venderam. Eu não estive nem perto de chegar perto dessa vida, e graças a Deus, porque talvez chegar lá me tornasse tão infeliz quanto eu fui nessa jornada.
Pelo que me lembro, eu passei os últimos anos fugindo do meu presente para ver se eu me encontrava no futuro, em algum lugar dele. Todos os livros que li, todos os cursos que fiz, todas as palestras que assisti, me disseram que a felicidade estaria na linha de chegada, quando eu tivesse o meu diploma em mãos, um carro bonito, um cargo almejado, um salário digno de aplausos. Sempre vivi o meu presente carregando uma mancha escura que não saia de jeito nenhum, ou levando comigo um quebra-cabeça com uma única peça faltando, e essa mancha, essa peça, era a minha carreira.
Eu não sei quem eu fui nos últimos meses; eu me lembro apenas das frustrações, das angústias e dos momentos em que passei chorando, triste e cabisbaixa pela casa, sofrendo pela única coisa que não tinha: uma carreira. Mas o engraçado é que eu tinha um mapa em mãos, eu sabia exatamente a sequência de passos que precisaria dar para chegar lá, e algo sempre me bloqueou no caminho. Sempre senti uma resistência inexplicável que vinha em forma de infelicidade.
Hoje, quando me perguntam o que eu faria se dinheiro não fosse um problema, ou se o julgamento das pessoas não importante, a única resposta que vem são alguns verbos soltos: estudar, escrever, criar. Nada muito ambicioso, grande ou formidável, mas apenas o bastante para me fazer me sentir vida de novo. Quando me perguntam o que eu quero para o meu futuro, tudo o que saí de mim como resposta é a minha vontade de me sentir viva novamente.
Eu não quero ser como as pessoas que usam a carreira como meio para medirem o seu próprio valor, para provar umas as outras que são boas o bastante e que são dignas de respeito e amor. Não quero transformar a busca por uma carreira em uma busca por mim mesma. Hoje me sinto muito mais eu abrindo mão de tudo o que construí até aqui, sabendo que nada foi em vão. O meu chamado não está na carreira, e aceitar isso doí e, ao mesmo tempo, me liberta. Eu tenho tantos interesses, tantas coisas que amo, tantos assuntos que sou apaixonada, que ainda quero me dar uma chance de aprender e explorar alguns deles, que não faz sentido entrar em uma caixinha e me espremer para ficar lá até o último suspiro da minha vida.
Me arrependo do tempo em que passei usando o presente como um meio para chegar em algum lugar. Sinto que nunca aproveitei a vida, que nunca a desfrutei de verdade, que nunca dei um suspiro sem a preocupação de fundo, nunca contemplei um nascer do sol despida do medo de fracassar e falhar, de não conseguir chegar lá.
Quando o Paulo me pergunta qual mimo eu quero ganhar de presente, a minha resposta tem sido: nada, eu já tenho tudo o que eu quero. E isso nunca foi tão verdadeiro: eu já tenho tudo o que eu quero, porque a única coisa que eu quero é viver o presente. É conseguir respirar novamente sabendo que não é uma carreira que me define ou dita quem eu sou, que eu não sou um lixo porque eu não quero dedicar a minha vida para seguir uma carreira específica, ou ter objetivos concretos e palpáveis. Tudo o que eu quero está no aqui e no agora, está onde os meus pés estão e não onde a minha mente pensa que deveria me levar.
Eu passei tanto tempo me sentindo mal pela carreira que não construí, que esqueci como um dia de chuva é um calmante natural, como acordar de manhã ouvindo o silêncio da manhã e quem sabe o cantar dos pássaros é o remédio para o vazio, como contemplar um céu azul traz esperança, como sentir o meu aroma favorito de café é um privilégio. Esqueci de olhar a beleza de um jardim, de me sentir grata por um abraço genuíno, esqueci o gosto da risada que vem depois de ver a simplicidade da vida em quatro patas.
Posso não ter uma carreira, mas tenho tudo o que preciso para ser feliz: um relacionamento saudável, um parceiro de vida, uma família funcional que me apoia, uma saúde maravilhosamente boa, uma saúde mental estável, não uso nenhum medicamento controlado, tenho um sono regulado. Eu apenas quero desfrutar de tudo o que tenho, sem me culpar pela carreira que não cheguei a construir.
Eu já cheguei onde eu quero, e apenas eu não tinha me dado conta disso. O presente já basta por si só, e eu não quero mais me exaurir por uma construção que apenas me devolveu um punhado de desgaste, ansiedade & medo na minha caminhada. Não há nada que me daria a sensação de “cheguei lá”. Hoje, o presente é o suficiente, por hoje, ele basta.
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