A meditação vai muito além de uma simples técnica usando a respiração. Ela é um estilo de vida que nos ensina a como estarmos presentes, contemplativos & serenos em meio ao caos que vivemos diariamente em nossas vidas. Uma das melhores decisões que tomei foi iniciar a prática de meditação há 4 anos e hoje consigo perceber a diferença que fez na minha qualidade de vida e rotina diária.
Primeiro, meditar não é apenas para pessoas que já são naturalmente zen e calmas. É muito comum ouvirmos por aí “ah, mas eu sou muito estressada/ansiosa para meditar”, mas a meditação é justamente para pessoas assim. Cada pessoa tem uma maneira única e individual de lidar com as próprias emoções e sentimentos conforme as experiências e aprendizados que cada um teve ao longo do seu desenvolvimento, e é claro que algumas pessoas carregam mais ansiedade e estresse que outras.
Porém, da mesma maneira que construímos e adotamos alguns padrões emocionais que nos inclinam para o estresse, também podemos construir e adotar novos padrões emocionais, ou seja, da mesma maneira que aprendemos a lidar com as nossas experiências diárias cultivando estresse e ansiedade, também podemos aprender novas maneiras de lidar com as situações do cotidiano, e a meditação é uma ponte que nos auxilia nisso.
Comecei a meditar em 2020 quando dei inicio a minha jornada de autoconhecimento & desenvolvimento pessoal de maneira intencional, fazendo desse processo de me autoconhecer uma prioridade e um processo para a vida toda. Como é comum na jornada de autoconhecimento, acessei as minhas sombras e o meu lado obscuro, já que se autoconhecer não é apenas um mar de rosas, mas envolve também se deparar com nossos próprios defeitos, sombras e traumas.
E uma das minhas sombras era o meu lado reativo & impaciente no dia a dia. Qualquer mínima coisa, eu já surtava e me irritava completamente. Qualquer coisa fora do lugar já era motivo de briga, discussão e encrenca, ainda mais se envolvesse outra pessoa. Eu basicamente vivia zangada e bravejando pelos cantos as pequenas coisas do cotidiano que tinham o poder de me tirar o sério.
Como me casei nessa época e fomos morar juntos, eu sabia que o meu temperamento estressado e impulsivo não me ajudaria em nada a construir uma boa relação e muito menos um casamento saudável, e em nenhum momento exigi que meu marido se adaptasse ao meu jeito ou que aceitasse a minha personalidade do jeito que é. Na verdade, mudei o que estava dentro do meu controle: minha postura e reação. Fui trabalhando internamente a minha irritabilidade e estresse, pois o meu marido sempre foi a pessoa capaz de me inspirar a querer me tornar uma pessoa melhor e a mudar por ele.
No começo, meditar foi um desafio. Eu não sabia se estava fazendo certo, ou se deveria sentir alguma coisa específica, ou se já era para eu ser inundada pela calma e serenidade que haviam me prometido. Não sabia se existia um jeito certo de meditar, o que deveria acontecer em seguida, mas mesmo assim, tentei por alguns dias, semanas e meses, até que me dei conta que desde essa primeira tentativa, já se passaram 4 anos mantendo a prática da meditação na minha vida.
E se você nunca tentou ou se tem interesse em começar, já te adianto que não existe uma única maneira de meditar e nem o melhor jeito. Há o que funciona melhor para você e o que faz sentido, e que é normal carregar várias dúvidas e inseguranças, principalmente se você está experienciando a meditação pela primeira vez.
A palavra meditação vem do latim meditare, que significa estar no centro de si, desligando-se do exterior e concentrando a atenção em si mesmo. E essa, por si só, já é uma excelente definição do que é meditar: voltar ao seu centro. Em meio a vida que levamos, que por muitas vezes se torna caótica, bagunçada e confusa, somos bombardeados por infinitos estímulos: acontecimentos, pessoas, conversas, emoções, pensamentos, medos, crenças, ideias, angústias, imprevistos, etc., E tudo isso nos afasta do nosso centro, nos distancia de nós mesmos e cria uma separação de quem realmente somos.
Estar em meditação significa deixar todo o mundo lá fora, se afastar temporariamente dos problemas, das preocupações, das pessoas e de tudo o que existe ao nosso redor para direcionarmos nossa atenção e foco no nosso interior. É um retorno a nós mesmos. Meditar é como fazer uma pausa do mundo externo e criar um momento de respiro conosco. E toda vez que fazemos isso, alcançamos um estado de clareza emocional e mental. Meditando, silenciamos o turbilhão dentro e fora de nós.
Muitas pessoas acham que meditar é sobre não pensar em nada, e não. Mesmo meditando, os pensamentos vêm e vão, mesmo sentado em um lugar silencioso e calmo, a nossa mente continuará agitada, e meditar não nos isenta disso. Então, porque meditar, Lua? Porque meditando, começamos a nos tornar observadores desses pensamentos e de todas as narrativas dentro da nossa mente. Começamos a treinar a nossa capacidade de observar os pensamentos sem nos deixarmos sermos levados e sequestrados por eles. Entendemos que pensamentos são como a onda do mar: vêm e vão.
Tenho certeza que já aconteceu por aí da sua mente trazer a tona um pensamento e você se deixar se distrair por ele, dando muita atenção a esse pensamento e deixando que ele trouxesse vários outros em seguida, e quando você percebe, já está pensando na morte da bezerra. A nossa mente automática está sempre criando conexões neurais que geram pensamentos, e quando não trabalhamos a nossa capacidade de observar o que se passa pela nossa cabeça, somos seduzidos pelas histórias que nossas mentes nos contam.
Com o tempo e com a prática da meditação, identificar os pensamentos sem se deixar prender por eles e voltar a sua atenção para sua respiração no momento seguinte vai se tornando uma prática mais possível. Com a meditação, consegui treinar essa capacidade de focar e me concentrar na respiração, ou em alguma parte do corpo, ou escolher prestar atenção em um som do ambiente, em um objetivo específico, sem me perder dentro da minha própria cabeça.
A meditação não serve para nos deixarmos calmos e serenos, isso será apenas consequência de meses e anos de prática, pois meditar tem a capacidade de mudar e transformas as estruturas do nosso cérebro, incrível, né? Não espere estar meditando durante algumas poucas semanas e se deparar com mudanças gigantescas, pois isso é um processo. Logo nas primeiras práticas, você pode perceber uma sensação de presença, tranquilidade e clareza que vem de se afastar do mundo caótico e focar exclusivamente em si mesma.
O objetivo de meditar é nos perceber por completo sem julgamentos, críticas ou comentários negativos. Toda vez que sento ou deito para meditar, não é para me acalmar ou ficar em paz, é simplesmente para observar algum sentimento, emoção ou sensação que estou sentindo no momento. Meditar me ajuda a identificar, nomear e aceitar o que estou sentindo sem me deixar ser controlada por essa emoção e sem me criticar por senti-la. Eu apenas escolho colocar minha atenção na ansiedade, no estresse, ansiedade, etc., e notar como meu corpo reage a essa emoção, o que minha mente diz sobre sentir essa emoção e todos os efeitos físicos dela.
Claro que a calmaria e tranquilidade durante e pós-meditação são consequências que muitas vezes estão presentes, mas não necessariamente é uma regra.
Hoje em dia eu me tornei uma pessoa menos reativa, e mais observadora, contemplativa e capaz de testemunhar os acontecimentos do dia a dia sem surtar ou agir na impulsividade. Minha mente e o meu corpo conseguem fazer uma breve pausa - se segundos mesmos - que me permite refletir, analisar e ponderar de maneira mais leve e construtiva. Meditar nos ajuda a desenvolver uma relação melhor com nossos pensamentos, e isso nos dá um respiro para tomar uma decisão baseada no que está mais alinhado aos nossos valores e a nossa essência, e não o que a nossa mente diz ou determinada.
A principal âncora de foco de quase todas as práticas meditativas é a respiração. Por quê, Lua? A respiração é o que nos mantém vivos e conectados a vida, e cada respiração que prestamos atenção nos conecta ao momento presente, ao aqui e agora, já que não tem como respirar no passado ou no futuro. Cada respiração nos traz de volta a realidade do presente e nos ancora na realidade, já que passado e futuro são ilusões e projeções da nossa mente automática.
Meditar é um presente que você pode se dar. É um respiro e uma pausa da turbulência que vivemos diariamente e que nos permite estarmos conectados as nossas necessidades internas. Nos ajuda a acolher, abraçar e aceitar nossas emoções, pensamentos & sentimentos com mais leveza e sem deixar que nos controlem. Que tal experimentar por aí?
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