Querida Lua,
Eu queria que as palavras que escrevo para você fossem doces como mel; eu queria lembrar de um céu azul e um dia ensolarado quando penso em você, mas a sensação que vem é a mesma de estar em pé na areia da praia tentando proteger o guarda-sol da ventania forte enquanto o clima fecha e o dia volta cinza. É muito fácil te detestar e eu poderia fazer isso de jeitos incontáveis, é fácil encontrar as piores palavras para dizer de maneiras diferentes o quanto eu odeio ter de consertar as suas escolhas ruins.
Não, eu não quero passar pano para você & sei que eu também não deveria te crucificar, mas eu não encontro um meio-termo, ou um ponto de equilíbrio entre te ignorar por completo, ou te deixar sozinha na metade do tempo. Hoje, depois da velha e conhecida terapia, um filme sobre nós duas passou diante dos meus olhos; mas sabe, dessa vez eu não consegui chorar. Chorar foi a última coisa que consegui fazer de uma lista infinita de outras coisas quando encarei você. Você não me deu espaço para chorar. Você tirou o meu espaço e me colocou em um cubículo que mal posso respirar. Você me tirou o chão e esqueceu que eu não tenho asas para voar.
Eu queria dizer que sinto muito por cada decisão que você tomou, mas, na verdade, eu sinto tudo. Eu não faço ideia de qual seria a sensação de misturar um punhado de raiva, tristeza, arrependimento & amargura no mesmo pote, mas com certeza deve ser parecido com o que sinto agora. Se a sua intenção era deixar o presente mais quebrado que uma garrafa de vinho despedaçada em incontáveis pedaços pelo chão e não me avisar de que eu poderia pisar em algum caco de vidro, você conseguiu. Só para você saber, ainda estou tentando remendar o resto de pele e costurar as feridas em aberto que talvez o tempo me ajude a curar.
Você foi meiga, mas ninguém te disse que ser meiga, gentil e amorosa te custaria todo o resto. Eu queria ter estado do seu lado para te chacolhar e quem sabe te trazer de volta para a realidade, mas não consegui ser insistente o bastante. Hoje estou mais lúcida que você & doí. Não posso te culpar, e até acho que você fez bem em manter os olhos fechados. Se você visse tudo o que eu enxergo hoje, tenho certeza que escolheria arrancar os olhos ou desenterrar o coração do peito. Me desculpe, mas você era fraca demais para tomar decisões importantes.
E então você preferiu deixar as decisões sérias para mim. Não sei se fico ou se faço as malas e vou embora. Não sei se dou uma chance e permaneço no mesmo lugar. Você decidiu brincar de faz de conta e acreditar em contos de fada, e quando o bicho pegou e chegou a minha vez de ser a adulta que você não foi, você me obrigou a tomar partido, a escolher o meu lado da batalha, a decidir se fico ou se ergo a bandeira de paz.
Pensar em você me faz ouvir o eco de algumas palavras reverberando na minha cabeça. Tem uma parte de mim que tenta te defender e até te inocentar, embora toda vez que ouço a palavra imatura e covarde repetidas vezes ecoando dentro de mim, eu abandono o meu lado defensora & deixo a minha versão julgadora tomar conta. Onde você estava com a cabeça? É o que eu quero esbravejar para você, não gritar, não sussurrar, não perguntar, mas jogar a pergunta para você com força o bastante para te despedaçar da mesma maneira que você me despedaçou & você sentir uma parcela do que estou sentido agora.
Tenho que pagar o preço de pecados que não cometi. É injusto ter de consertar as suas escolhas erradas. Aposto que se você me visse agora, você diria algo como “quem não está sendo adulta agora?”. A verdade, é que ainda estou aprendendo a ser, desde que você optou por não tomar as rédeas quando podia, desde que você abriu mão de tudo em nome do amor. Naquela época você não sabia, mas o amor pouco te ajuda a sobreviver no mundo real. Sei que você jamais estará preparada para essa conversa, porque você é, e sempre será essa versão de mim que acredita em histórias de amor, em romances de época e que está sempre pronta para entregar o seu coração a alguém, como se ele não pudesse ser realmente seu.
Por favor, fique longe do meu coração. Ele já está machucado demais para você inventar paixões platônicas, trocas de olhares e mensagens românticas.
Obrigado por ter me dado um passado para curar, decisões ruins para enfrentar e uma lista infinita de coisas para consertar. Tá, eu sei que você estava tentando dar o seu melhor, pelo menos é o que eu acredito e também o que todo mundo me diz, pelo menos as pessoas que estão no Instagram, o que já não sei se é uma fonte muito confiável, mas isso não diminui o peso que tem os meus questionamentos: por que Luana?
Por que você não foi só um pouquinho mais egoísta? Por que você não inventou alguns limites dentro da sua cabeça e os desenhou para os outros? Eu precisei do seu egoísmo em dose dupla, mas você não me deu nem metade do tanto que eu precisava. Agora preciso dar um jeito de sair do buraco que você me enfiou. Só para a sua informação, aqui é tão escuro que dá vontade de desistir de todo o resto & ficar observando a vida passar lentamente, aqui tem tanto breu que não faz diferença manter os olhos abertos ou fechados; de onde eu estou parece não ter saída nenhuma e isso me deixa claustrofóbica.
Não é possível que você me fez estar nesse lugar de propósito. Aqui é úmido, e não sei se as minhas lágrimas que fazem isso ou se tudo dentro de mim mofou e o exterior virou uma daquelas paredes bolorentas de casas velhas.
Você conseguiu se esquecer e agora eu tenho que estar vigilante para me lembrar de quem eu sou e não me esquecer também. Você se afogou em mar aberto e em águas turvas, e agora sou eu quem precisa aprender a nadar para nos salvarmos das tempestades e dos redemoinhos que ficam. Mesmo você não merecendo, eu prometo encontrar uma saída por nós; eu juro encontrar um beco estreito por onde a gente consiga sair; eu te garanto o que você mesma não é capaz de se oferecer: paz em vez de amor.
Com amor & ódio,
Lua
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