Eu sempre discordei da frase que dizia que somos a média das cinco pessoas com quem mais convivemos. Antigamente, eu jurava de pés juntos que isso era mentira.
Depois fui aprendendo cada vez mais sobre o poder que o ambiente tem sobre nós, e então passei a estar mais aberta para aceitar - e internalizar - essa afirmação. Hoje, depois de algumas experiências pessoais, acredito nela totalmente e me questiono porque antigamente ela não fazia tanto sentido assim para mim, mesmo sendo tão óbvia como é hoje.
Eu, infelizmente, me tornei a média das pessoas com quem mais convivi nos últimos anos, sem conseguir notar, perceber ou reconhecer. Me tornei igualzinho as pessoas com quem dividi a maior parte do tempo nos últimos anos. E apenas tenho consciência disso porque saí do mesmo ambiente e da mesma convivência a que estava enclausurada; só depois de me afastar, é que consegui reconhecer a fraqueza, a fragilidade, o comodismo e a inércia tão bem em mim.
Precisamos nos afastar das situações e das pessoas com quem dividimos parte da nossa vida para podermos enxergar com clareza o que antes era turvo, para colocar as coisas em perspectiva, encarar a nós mesmos de outro ponto de vista e interpretar a situação por outro ângulo. Se não fosse por esse afastamento, as minhas lentes ainda estariam sujas.
Hoje me pergunto de onde veio a minha confusão, de onde surgiu a minha insegurança e medo; me pergunto o porquê de ter me abandonado tanto, ou a razão que me fez não pensar no futuro com mais maturidade, ou em que ponto eu deixei o comodismo tomar conta e parei de buscar pelas coisas que desejava.
A verdade é que nada disso veio só de mim; grande parte dessas coisas me encontraram por causa de outras pessoas. Como ter clareza de algo se as pessoas ao seu redor são confusas, perdidas & bagunçadas? Como acordar de manhã com a motivação para viver mais um dia se quem está com você vive triste, cabisbaixo e reclamando de tudo? Como finalmente dar passos de coragem se tudo o que você vê ao redor é desleixo, abandono e descaso? Como ter esperança na vida, se a pessoa que está contigo sobrevive mergulhada em desesperança e desânimo?
Eu não escolhi ser afetada por tudo isso, eu não decidi que me tornaria assim, mas foi o que vi; esse foi o contexto em que estive; isso foi o que presenciei por tempo demais. E tudo aquilo que sempre vemos, as vivências que repetimos, as situações que nos deparamos com elevada frequência se tornam a nossa referência, se tornam os nossos exemplos. E eu não tive outras referências e muito menos outros exemplos para me espelhar nos últimos anos. Aprendemos a ser tantas coisas por osmose.
Como ter a iniciativa de construir seus próprios planos para o futuro se você "nunca" vê o outro fazendo o mesmo? A ideia não vai surgir como passe de mágica na sua cabeça. Antes, é necessário ter a referência de algum lugar. Como dizem: “o exemplo arrasta”; é impossível ver alguém frequentemente empolgado, animado e entusiasmo com algo e não querer viver o mesmo, ou desejar presenciar coisas parecidas, ou não se sentir inclinado a dar os mesmos passos em direção a seus próprios anseios.
Passei muitas semanas me culpando por não ter nada projetado para o futuro, por não ter um plano de carreira estruturado para os próximos anos, por não ter um plano de previdência privada para mim, por não ter nada estável e duradouro na minha vida, por não ter pensado em financiar um apartamento antes, por não ter criado a minha reserva de emergência, por nunca ter me organizado para fazer uma viagem qualquer, mas aí vem a pergunta: de onde viria a iniciativa de fazer tudo isso se as minhas referências eram tão vazias, parcas e insuficientes?
Como eu poderia escolher fazer todas essas coisas se eu nunca tive elas como exemplo dentro das minhas próprias convivências pessoais?
Por isso, eu acredito imensamente que nos tornamos a média das pessoas com quem mais convivemos, porém, na maior parte do tempo, isso acontece sem que a gente tenha consciência e esteja maduro o bastante para se dar conta disso. Essa influência acontece nos detalhes e começa quase que imperceptivelmente. Eu precisei furar uma bolha e sair dela para finalmente perceber como estava me tornando igual às pessoas com quem convivia: enfraquecida & deprimida.
Me tornei alguém sem propósito. Alguém que já não carregava a mesma vontade e intenção de antes. Me acovardei diante da vida e um dos motivos foi por não haver em quem me espelhar, ninguém que realmente me inspirasse a ser forte, não pela fala, mas pelo exemplo, pela ação, pela atitude. Me tornei aquela que se arrasta diante das veredas da vida por não ter ninguém próximo se movimentando por livre vontade, por não ver ninguém dando passos firmes e certeiros.
Se todo mundo ao redor precisava ser empurrado para a frente, de onde eu tiraria o exemplo para dar meus próprios passos com autonomia? Só lembro de ter me tornado refém do comodismo como todas as pessoas que estiveram ao redor de mim estavam.
Depois de tudo isso, eu deixei de me reconhecer; parei de encontrar em mim mesma aquela Luana que acordava 5h da manhã sem nenhum problema, que não se importava de pegar metrô e ônibus para buscar seus sonhos e construir seu futuro, que amava conhecer lugares diferentes de São Paulo e se sentia orgulhosa por ter sido tão forte em mais um dia. Sinto falta dessa Luana que a convivência arrancou de mim.
No processo de me tornar a média das pessoas ao redor, fui perdendo a essência e a conexão comigo mesma, e dando espaço a procrastinação, a preguiça, ao marasmo morarem.
As pessoas com quem dividimos a vida nos influenciam em tudo, querendo ou não, gostando ou não, porém precisamos estar com a visão clara e as lentes limpas para darmos conta disso, e para encararmos a verdade: na maioria das vezes, a convivência não nos apaga de quem verdadeiramente somos, apenas nos dá um punhado de hábitos que jamais começaríamos se estivéssemos sozinhos.
Meu conselho para hoje é: ao perceber que a convivência não soma, suma.
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