Um dos livros mais antigos da minha prateleira é um chamado as 5 linguagens do amor. Como o próprio nome sugere, ele é um livro sobre as nossas diferentes maneiras de expressar amor, e como nos sentimos amados de formas únicas dentro das nossas relações. Faz uma eternidade que digo que vou começar a leitura, e é engraçado que adio ele de todas as formas possíveis, mesmo sendo um livro com poucas páginas e sabendo que dá para matar a leitura em poucos dias também.
Não sei por que, mas a palavra amor ainda me assusta, e talvez estudar sobre isso também. Da mesma maneira que um dia o conceito de felicidade pareceu estranho, e hoje ser feliz parece mais simples e possível do que era quando eu ainda acreditava nos diversos mitos sobre felicidade. Me assusta porque é uma palavra tão familiar e, ao mesmo tempo, um completo ponto de interrogação.
Por muito tempo eu acreditei que amar era um sentimento, e talvez comece por um. Talvez o primeiro passo para o amor nascer seja realmente a intenção, o desejo, o interesse. Mas hoje eu sei que amar não é simplesmente carregar um sentimento no peito; não é sobre o fascínio e a admiração que podemos sentir por alguém, nem mesmo sobre aquele ardor que borbulha dentro de nós quando estamos dividindo um momento com alguém.
Há uma parte do amor que, sim, nos deixa ser ar, sem fôlego, sem onde pisar os pés; há uma parte de amar que é estranhamente emocional e afetiva, mas na maior parte do tempo, o amor é uma atitude. Eu me lembro daquela versão adolescente minha que acreditava que amor eram versos bonitos escritos em estrofes e parágrafos de textos e poesias. Aquela versão minha enxergava o amor a partir de palavras; e claro que podemos usar as palavras para expressar e dizer o quanto amamos alguém, mas agora na vida adulta, dizer coisas bonitas não faz o amor simplesmente existir.
Eu posso estar errada, mas amor é uma escolha, é uma ação, é uma atitude, muito antes de ser somente um sentimento, pelo menos para essa versão minha de hoje é. A gente pode até dizer que ama, que sente, que carrega amor, mas será que amamos o bastante para colocar esse amor em uma ação, em uma escolha, em uma decisão? Amar por palavras é fácil; difícil é quando temos que fazer algo pelo outro.
Será que você ama o bastante para fazer algo por quem diz amar? Hoje eu sei que o amor é medido pelos gestos e decisões que tomamos, e não pelas palavras que dizemos. Você pode dizer que ama alguém, mas ama o bastante para transformar esse sentimento em atitudes e escolhas diárias? Você ama o suficiente para estar inteiro pelo outro? Para melhorar por quem está do seu lado? Para crescer e evoluir por quem escolheu dividir a vida contigo? Eu sei, isso não é para qualquer pessoa que não esteja comprometido.
Acredito muito que o amor passe a existir além das palavras e sentimentos quando transformamos o outro em nosso “por quem”, e isso vai muito além de ter um “por que”. Uma vez eu ouvi a seguinte frase que resume muito bem a minha visão sobre amar alguém “Tá, você morreria por quem ama, mas você viveria por quem ama?”. Morrer é um segundo, mas viver envolve movimento, atitude & ação por um longo tempo da nossa vida.
De um tempo para cá, é esse amor que eu quero para a minha vida: um amor que some pelas escolhas e atitudes e não pelas palavras. Quero poder enxergar o amor em pequenos e grandes gestos do dia a dia. Quero ver o amar estampado em atitudes e decisões do cotidiano. No simples, descomplicado e comum. Acho que passei tanto tempo da minha vida sendo amada por palavras que isso me deixou saturada e cansada de ter que fazer todo o resto dar certo sozinha. A gente ama quando quer fazer algo por quem está conosco, sem esperar algo em troca e sem esperar para jogar isso na cara do outro em algum momento do futuro.
Alguém que não transforme as pequenas coisas do dia a dia em briga, que não feche a cara por qualquer detalhe, alguém que não arrume confusão pelas coisas bestas e simples que dariam para ser resolvidas em segundos; alguém que não crie contendas e desavenças por uma louça suja, por um lixo a ser tirado, por uma roupa bagunçada no chão. Quando o amor não está presente nos gestos, todo o resto vira motivo de caos.
A gente diz que ama, mas será que ama o bastante para querer melhorar os nossos defeitos e amenizar nossas falhas? Será que amamos o suficiente para querer corrigir nossos tropeços? Será que amamos o bastante para estarmos dispostos a fazer o simples todo dia? Se não existir isso, acho que todo o amor que falamos sentir não passa de apego & coisa de ego.
Eu acho que nesse texto caberiam mais quinhentas palavras para definir o quanto amor é uma atitude antes de ser um sentimento; ou um pouquinho das milhares de vezes que acreditei ser amada mesmo não sendo de verdade, mas é principalmente um rito de passagem da ingenuidade para maturidade; porque a vida adulta em si se constrói da sabedoria e do conhecimento das experiências e dores que colecionamos pelo caminho.
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