Luana Galdino

um pouco de tudo o que vivo

Luana Galdino
Oi, me chamo Luana e aqui você encontra o meu diário virtual sobre cotidiano, reflexões, aprendizados e experiências que a vida me deu. Escrevo para dividir um pouco das coisas que amo, me inspiram e que me fazem feliz. Esse blog é um lugar de respiro para quando você precisar de uma pausa ♡

Geração vazia do caralh*

Eu nunca li Zygmunt Bauman e conheço relativamente pouco sobre a modernidade líquida que ele tanto fala em seus livros, mas eu acho que vivi na pele, com muita dor, o que esse conceito quer dizer, acho que consegui sentir em carne e osso o significado dele, e sinceramente, parece mais como um murro no pé do estômago.

Eu já vivi muitos términos ao longo da vida, talvez não tantos assim como você esteja pensando, para ser exata, três até o começo desse fim de semana; posso dizer com certeza que todos doeram e machucaram de formas inexplicáveis, cada um do seu jeito e com as suas próprias angústias. Uns eu chorei pela saudade que ficou, uns pela maneira que fui tratada, outros pela incompatibilidade & hoje choro por algo que nem sei se é uma mistura de raiva ou alívio.

Odeio sentir tanto, porque sempre parece que estou exagerando e preciso esperar a minha versão de algumas semanas a frente para me confirmar que sim, eu estou realmente aumentando em proporções gigantescas um sentimento que em poucos dias vai se amenizar, vai diminuir & não vai sobreviver ao tempo; mas até essa versão minha não chegar para me crucificar, esse texto precisa sair, ou melhor, ser cuspido de mim.

Esse texto precisa ser escrito, talvez como uma despedida que não tive, um adeus que não disse, ou para simplesmente arrancar esse ponto de interrogação que ficou em mim. Tem uma frase que diz que se um escritor se apaixonar por você, você nunca morre. Acho que é verdade, eu estou prestes a eternizar alguém que nem sei por que passou pela minha vida, mas é como dizem “só doí porque é importante, só é importante porque doí”. 

Acho que uma das piores sensações é gostar de alguém, sentir que tem algo verdadeiro ali… e de repente, num piscar de olhos, num milésimo de segundo, tudo vira do avesso e a pessoa se afasta sem explicação, trata a gente com frieza e não tem nem a dignidade e a hombridade de conversar. Uma das coisas mais fascinantes que o filme F1 me ensinou é que meio segundo é muita coisa. Depois de tudo o que aconteceu, hoje eu entendo como um segundo é tempo demais e o bastante para fazer tudo ser diferente dali em diante.

Saber que eu tentei me conforta, saber que talvez eu não tenha tentado o bastante, ou não tenha tentado do jeito certo, me consome. Eu tentei por uma conversa por WhatsApp, e isso me derruba e me faz ficar no chão com a sensação de ter sido pisoteada por desconhecidos, não tanto quanto saber que não pude nem tentar por uma conversa por telefone. 

O que você pode dar em troca do silêncio, da indiferença e da punição passiva? 

Os relacionamentos de hoje não deveriam ser sobre tentar - inutilmente - adivinhar o que se passa na cabeça do outro. Isso não é justo. Nem maduro. Nem amoroso. É um peso que nenhum de nós deveria precisar carregar. O diálogo é sobre isso: expressar os desconfortos, falar dos incômodos, deixar claro e transparente o que precisa ser visto e compreendido melhor, é sobre colocar os pontos nos is, colocar as cartas na mesa, gritar o que nos afeta. Tudo isso para dar margem a melhoria & mudança. 

É aí que a modernidade líquida entra. Bauman fala que, na modernidade líquida, os vínculos humanos se tornaram frágeis, passageiros, instáveis. Ele diz que os relacionamentos, hoje, muitas vezes são tratados como produtos descartáveis: se algo incomoda, se a pessoa não atende a uma expectativa imediata, ou se há qualquer desconforto… em vez de dialogar, de enfrentar, de construir juntos, o mais comum é romper, ignorar, sumir. É como se fosse mais fácil “substituir” do que “cuidar”.

Acho que ninguém sabe mais do que eu mesma o tanto que eu estava disposta a me corrigir, a entender os meus erros, a acolher os meus equívocos e fazer diferente. Essa certeza ninguém, absolutamente ninguém pode tirar de mim. Bauman está certo: as pessoas não querem o esforço de construírem uma boa relação; elas querem o produto completo logo de cara, não querem o trabalho e o esforço de construírem algo duradouro, de melhorar o que poderia ser melhorado.

Diante do primeiro incômodo, da primeira frustração, mesmo que pequena & simples, isso já é motivo o suficiente para cortar o laço, sem nem sequer tentar resolver, mesmo sabendo que teve um milhão de outros pontos de conexão, de pertencimento e troca. Ok, tentar resolver é uma coisa, fugir de tudo o que lhe convêm, é outra totalmente diferente.

Não tem como sustentar uma relação se quando estou buscando o diálogo, o outro está escolhendo o silêncio. Isso mostra como a comunicação se tornou uma via de mão única: muitas pessoas já não querem se comprometer com o esforço de conversar, de se mostrar vulneráveis. E eu odeio isso; odeio essa tentativa das pessoas de tentarem ser fortes a custa do outro, de se mostrarem resistentes e duras a custa de um futuro que poderia ser construído caso se permitissem sentir um pouco mais. 

Elas tentam ser fortes fugindo dos vínculos, das entregas, do sentir por completo, que se tornam rasas & vazias. Uma capa bonita e um conteúdo escasso. Isso é insuportável. Na pressa e no desespero de não se machucarem, é o outro que se machuca e dane-se. Dói saber que essa máscara de fortaleza ilusória arranca até mesmo a mais forte das conexões. Quando parecia que ia dar certo. Quando estava indo bem. 

Mas às vezes, infelizmente, a dor vem justamente para nos mostrar que, por mais química que tenha… respeito, diálogo e maturidade são o que realmente sustentam qualquer relação. E nisso teve falha. 

A gente merece que o outro diga o que sente. A gente pode estar errado de várias maneiras que não compreendemos, mas merecemos diálogo, presença e clareza. E se alguém escolhe nos deixar no vácuo, nos punir por algo que a pessoa supôs, ao invés de conversar… então, por mais que doa, talvez seja melhor ter saído agora da nossa vida, antes de nos machucarmos mais. 

Bauman diz algo que encaixa muito aqui:

“O amor líquido é uma tentativa de evitar as dores do envolvimento profundo. É o medo de sofrer que transforma relações em conexões superficiais.”

Acho que o mundo que está, muitas vezes, emocionalmente analfabeto.

Comentários

Formulário de contato

Ouça meu podcast 🎙️

Mande sua mensagem