O subtítulo desse texto é: eu não sou a garota de mais nada. É assim que venho me sentindo em relação a escrita. Eu nunca fiquei tanto tempo sem escrever nos últimos anos, ou mais especificamente, desde que criei esse blog, e de repente, quando percebo, a escrita foi parar dentro da gaveta, embaixo de várias meias bagunçadas e roupas reviradas, e eu não sei como me ter de volta.
A vida aconteceu e ela me soterrou, mais uma vez, e dessa vez, trouxe uma lacuna de dois meses em relação à escrita. Quase nada nesse ano aconteceu da maneira como eu planejei, na verdade, eu não me lembro de ter planejado nada do que aconteceu ao longo dela. A vida só foi acontecendo, e eu tentando me equilibrar e dançar no mesmo ritmo desconhecido e torto dela, nada mais. Não planejei tentar empreender mais uma vez, não imaginei nunca mais ver pessoas queridas, nem começar a estudar para concurso público, e muito menos entrar em lugares que não me cabiam e estar com quem não valia a pena.
Esse ano eu perdi uma coisa que passei a vida inteira tentando conquistar: controle. Eu nunca quis soltar o controle, até ser preciso, confesso, até cada parte minha gritar e implorar para eu me desfazer da minha obsessão por controle e isso aconteceu em uma cacetada só, e doeu. Doeu ter todas as minhas certezas caindo por terra, de novo, e de novo, e outra vez, e me ver repartida no meio, com uma rachadura transpassada no peito. E nesses momentos, eu só queria ter a Luana que nunca foi tão machucada e ferida de volta, queria ela inteira aqui novamente, mas a versão que sou hoje tem um sorriso um pouco mais amarelado, um ar de desconfiança mais apurado e um pé atrás sobre tudo.
Eu não sei quem eu sou sem controle, sem previsibilidade, sem fingir ter certezas, sem a ilusão de que posso fazer tudo dar certo do jeito que eu quero. Acho que me torno mais indiferente, ou seria neutra, ou quem sabe aquela que carrega um tanto faz nos ombros. Acho que quem me vê hoje se surpreenderia em como tenho conseguido viver a vida de um outro jeito: sem ser do meu. Eu dei espaço para Deus vencer: é a vontade dEle que prevalece, ou que deveria estar sempre de pé, e depois do banho de catástrofes, uma atrás da outra, eu entendo o porquê disso ser necessário.
Aconteceu tanta, mas tanta coisa nesse meio tempo, que a escrita se perdeu, em alguma esquina desconhecida, em algum lugar dentro de mim, no meio de tantos incidentes, acasos e fracassos; ela se desmanchou junto do caos que estou tentando colocar ordem. Escrever sempre me fez um pouco mais humana e empática, porque ela foi um jeito reconfortante que encontrei para lidar com a minha própria solitude, mas eu passei os últimos meses não querendo lidar com o outro lado da solidão.
Deixei gente demais entrar, e em parte, não me arrependo. Eu me tornei sociável, eu me transformei na pessoa das amizades, de mandar mensagens de bom dia, de fazer fofoca gratuitamente, de mandar reels bobos e engraçados, de oferecer ajuda, de me disponibilizar para ouvir. Eu fiz tudo isso e fui arrancada daquela solidão esquisita e estranha que ameaçava me rodear, até eu mesma me colocar de volta no centro da minha solitude. Ela sim é suportável, bonita e atraente. É ela que me faz escrever um texto às 23h de um sábado, e ouvir músicas cristãs depois de um dia abarrotado e fazer anotações bem incomuns no meu diário.
Gosto do meu lado sociável. Esse lado me surpreende. Eu olho para mim mesma e sou capaz de dizer: eu tenho amigos, eu tenho pessoas que verdadeiramente se preocupam comigo e que estão do meu lado, pessoas que podem até me julgar de um jeito que eu acabe merecendo de vez em quando, mas que estarão lá para mim. Isso é novo para a minha versão de hoje. Isso é a novidade em forma de presente. E estou me acostumando.
Deixei uma pessoa entrar na minha vida, uma pessoa específica, no sentido amoroso e emocional, e ela destruiu um bocado da minha paz e serenidade. Ela arrancou meu brilho e me afastou de tudo o que tentei reconstruir depois da separação. Ela me deu motivos o suficiente para me sentir culpada, incriminada e condenada, e mesmo eu sendo a inocente da história, acabei sendo transformada em vilã. Fui punida com indiferença & silêncio, e isso foi o bastante para eu desmoronar. Eu acho que acabei abusando tanto da escrita para lidar com a dor quase diária, constante e frenética dessa relação, que ela me abandonou.
Ou a escrita se tornou uma versão tão triste, depressiva e amargurada de tudo o que vivi, que ela mesmo fez as malas e partiu. Não vou mentir, eu usei muitos textos como uma forma de “indireta”, de externalizar o que eu não podia falar e o que a outra pessoa não queria - ou não podia - ouvir; e sei o quanto isso é coisa de adolescente apaixonada, mas é o que eu tinha. Era só o que eu tinha ao meu alcance, além da dor, é claro.
E nisso, o meu lema se perdeu: independente do que acontecer, você sempre vai poder escrever, independente do que a vida trouxer, você sempre vai poder transformar qualquer coisa, dor, pessoa, história ou acontecimento em um texto. Você sempre vai poder tocar e transformar a vida de alguém através da sua escrita.
A escrita é o meu dom, é o dom que eu ganhei de Deus e que eu deveria agradecer todos os dias de pé junto por carregar. Mas eu não tenho certeza de onde vieram esses 2 meses intermináveis sem conseguir sentar na frente do notebook para digitar uma frase inteira sem perder a cabeça, sem a mente se distrair, sem o corpo se irritar e me mandar embora.
Eu acho que me acostumei, nessa última relação, a nunca, nunquinha mesmo, ser ouvida, que passei a acreditar que ninguém poderia ouvir o meu texto, ouvir o que tenho a dizer, me compreender de verdade, a me alcançar realmente. Logo a escrita, que para mim sempre foi intocável, junto da academia, se tornou um lembrete distante. E bastaram esses dois meses para eu perceber o vazio que a ausência da escrita deixou no peito, no coração, no espírito & principalmente, para eu notar que eu realmente gosto de escrever.
Gosto da minha versão escritora. Essa que anda sempre com um caderninho na bolsa, que está sempre com um bloco de notas por perto, que passa bastante tempo atenta aos detalhes da vida acontecendo ao redor com a intenção de captar os detalhes, as nuances, os tons, os choros & risos. Gosto de aprender para escrever, gosto de viver para escrever, gosto de amar para escrever. Gosto de quem sou quando eu escrevo e quando a escrita está presente no dia a dia. Uma versão que sabe que ao escrever, a vida se torna um pouco mais leve, porque eu passo a dividir o fardo, passo a compartilhar a cruz, a fragmentar a dor.
Eu quero voltar a escrever para o blog. O principal obstáculo é a vida adulta. Essa vida adulta que me faz parcelar a escrita desse texto em 3 dias intercalados, mas isso é algo que a organização & o planejamento podem me salvar. Em meio ao caos, eu posso fazer as coisas serem um pouquinho mais parecidas como eram antes, talvez não idênticas, mas um pouquinho semelhantes ao que eram, quem sabe de uma maneira única dessa vez.
Não acredito que a escrita morreu, e acho que o fato desse texto ter saído, aos trancos e barrancos, significa que ela não morreu, ela não me deixou e muito menos me abandonou, pelo menos não definitivamente. Será que ela se cansou e tirou férias de mim por um tempo determinado? Quero voltar ao hábito da escrita semanal aqui no blog, retornar as postagens mensais, trazer recortes da minha vida em textos, compartilhar fotos, divulgar meus podcasts, falar dos meus estudos, porque eu amo compartilhar, eu amo escrever & usar a escrita, de um jeito que nunca fiz antes ou tirando todas as mentiras e medos.
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