Estou com a ideia de escrever esse conteúdo para o blog há semanas desde que concluí a leitura do livro de Eclesiastes & senti de compartilhar aprendizados, lições e anotações de cada capítulo, porém a rotina atarefada e as demandas de estudo foram me levando - infelizmente - a diminuir a frequência de postagens por aqui e a realmente ter que me obrigar a encontrar um tempo sobrando em meio ao caos atual.
Minha intenção com esse texto é registrar as percepções que fui tendo com a leitura, organizar o meu pensamento diante de algumas reflexões que tive e expressar a maneira como Deus falou comigo quando me deparei com pontos que foram de encontro ao meu momento de vida e que resolvi guardar de uma forma que me permita aplicar e levar para o dia a dia.
Pelas pesquisas rápidas que fiz a respeito do contexto histórico do Livro de Eclesiastes, sua escrita é atribuída a Salomão, filho do Rei Davi, um homem que claramente era detentor de muita sabedoria, conhecimento e riqueza. A partir da leitura, podemos encontrar a narrativa de uma pessoa que teve tudo, que vivenciou e experienciou tudo o que o mundo poderia oferecer, desde conhecimento, sabedoria, poder, prazeres, e ao final, após ter acessado a tudo isso, fez um balanço das suas vivências, chegando a algumas conclusões e apontamentos que falarei logo mais.
Porque a leitura do livro de Eclesiastes é importante?
Uma palavra que, para mim, define o assunto principal desse livro é futilidade. E advinha? Vivemos em uma sociedade que tem cultivado a efemeridade das coisas, a busca insaciável por prazeres terrenos e satisfação com base em coisas passageiras e insubstanciais - adorei esse sinônimo para coisas rasas e superficiais. Seja na rotina, nas nossas buscas pessoais ou no estilo de vida que adotamos, muitas vezes parece que nos falta um propósito maior. Sabe aquela sensação de estar vivendo simplesmente no piloto automático? Acordar, trabalhar, dormir? E que em meio a esse automatismo, falta algo mais profundo?
Colocamos muita coisa na frente de Deus: a busca por um status, a conquista de um cargo, um relacionamento, uma certa condição financeira, uma vida de prazeres desenfreados procurando por satisfação. Não há nada de errado em ter sonhos, objetivos & metas, mas a experiência de Salomão, indo de encontro a tudo o que existe “debaixo do sol” nos mostra que a verdadeira satisfação e significado não podem ser encontrados em coisas terrenas, mas somente no temer a Deus e guardando e aplicando os seus ensinos.
Já tive essa ideia de que viver uma vida perfeita, abundante financeiramente, com status e admiração, com inúmeras conquistas & realizações, poderia me proporcionar a felicidade incondicional e interminável que tanto buscava. Mas Salomão está aí para dizer que trabalho, prazer, riquezas e bens materiais, quando desassociados de Deus, são vazios e insatisfatórios a longo prazo - por experiência própria, eu concordo.
Ler tanto sobre coisas terrenas, com sua característica passageira e momentânea, me direcionou a pensar mais na eternidade, e a considerar, que sim, existe um plano espiritual que vai muito além do que podemos tocar, experienciar, conquistar e visualizar aqui hoje.
Não há nada novo debaixo do sol e tudo passa
“O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente”. Toda a história se repete. Não existe uma novidade extraordinária ou mirabolante nas experiências humanas, ou um propósito duradouro nas coisas terrenas, já que tudo sempre passa. Quantas vezes não foi falado nesse primeiro capítulo que grande parte disso é “correr atrás do vento”?
Grandes movimentos que vemos enraizados nas pessoas & culturas do nosso tempo, não são coisas que vem totalmente da modernidade, mas existiam e caminhavam com o ser humano há muito tempo. As buscas por poder, prazer, conhecimento e riqueza são cíclicas, e nenhuma delas trazem uma satisfação final e permanente, mas sim passageira.
Isso não quer dizer que não existam novas invenções ou progressos, sejam tecnológicos, científicos, ou avanços nas mais diversas áreas do conhecimento, mas sim que a essência da experiência humana e suas aspirações permanecem as mesmas. Tudo está constantemente se repetindo.
A partir do momento que nos tornamos mais conscientes de que tudo é, de certa maneira, terminável, passageiro e provisório, também podemos usar isso para direcionar melhor o nosso tempo, nosso foco e energia, pois nem tudo acaba valendo a pena, pois quando passa, fica o vazio e a busca por um novo preenchimento.
Desfrutar da vida é um dom de Deus
Ao longo do capítulo 2, Salomão percebe que a alegria passageira não preenche o vazio da alma, mesmo atingindo as coisas mais cobiçadas pela natureza humana. Mesmo tendo provado de todos os prazeres e riquezas, Salomão começa a falar sobre o papel da sabedoria em nossas vidas. Ele reconhece que "a sabedoria é melhor que a tolice, como a luz é melhor que as trevas". No entanto, ele também percebe a realidade de que tanto uma pessoa sábia quanto alguém tolo morrem. Não importa quanto uma pessoa tenha ou acumule de conhecimento, ela terá o mesmo destino de quem não se esforçou para isso.
Isso quer dizer que buscar a sabedoria é inútil e que devemos parar de buscá-la? Não, apenas que até mesmo a sabedoria pode ser transformada em vaidade. Sem Deus no centro, qualquer coisa, até mesmo aquelas que parecem inofensivas e boas aos olhos humanos, pode se tornar vaidade no nosso coração.
A parte que mais trouxe um aprendizado nesse capítulo foi a conclusão de que: não há nada melhor para o homem do que comer, beber e desfrutar do seu trabalho. No entanto, Salomão logo acrescenta um ponto que me pegou: isso é possível somente quando vem da mão de Deus. Ele reconhece que a capacidade de desfrutar da vida e do trabalho é um dom divino. E eu fiquei me perguntando: será que eu tenho feito uso desse dom que Deus me deu? De aproveitar, desfrutar e usufruir do fruto do meu “trabalho”? Hoje meu maior trabalho é estudar para concurso, então leia-se trabalho. Trabalho que, se eu for observar bem, não conquistei por mim mesma, mas sim algo que veio diretamente da mão dEle.
O tempo é de Deus e não nosso
O capítulo 3 é o mais famoso de Eclesiastes e eu nunca tinha lido inteiro, mas sempre me deparei com trechos e versículos nas redes sociais e espalhados pela internet. E para quem viveu a vida no modo 2x por tanto tempo, os trechos lidos se tornaram refúgio para a minha alma e descanso para a mente inquieta. Hoje entender que “tudo tem o seu tempo” me traz paz, antes me trazia impaciência por não ser o meu tempo. A perspectiva que temos ou fomos construindo sobre a temática do tempo molda como buscamos nossos objetivos, construímos relacionamentos e vivemos o dia a dia.
Neste capítulo, estão escritos um determinado número de coisas opostas, mostrando que tudo o que vivemos existe em dualidade, cada coisa sendo o seu oposto, e cada ponto desses opostos existe em um tempo determinado. Ou seja, as coisas não são bagunçadas. Tudo segue uma ordem e um tempo certo. Cada pequeno centímetro da criação de Deus não pode fugir ou se esconder de algo que apenas Deus tem controle: o tempo. (basta olhar para a natureza, né? isso se torna muito óbvio e palpável).
O ritmo da vida se dá em ciclos: nascer e morrer, plantar e correr, chorar e rir, buscar e perder, amar e odiar, guerra e paz. Não tem como nenhuma dessas coisas existir sem a outra. Esses "tempos" não são acidentais. Deus está desenhando e arquitetando todos os eventos da vida, e se existe essa dualidade, se há tempo de guardar e jogar fora, por exemplo, é porque cada uma dessas coisas tem o seu lugar no grande plano dele, tanto a alegria, quanto a felicidade, como também o choro e o riso.
O versículo 11 que diz “Ele fez tudo apropriado ao seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade.” Acho que no fundo isso explica porque as coisas terrenas nunca nos satisfazem por completo: porque no fundo buscamos um significado eterno; e o único que pode nos proporcionar isso é Deus. Entender que tudo acontece no tempo apropriado de Deus nos tira dessa prepotência de acharmos que sabemos tudo, quando na verdade, nossa mente finita nunca chegará perto da infinitude de Deus.
A gente pode ficar despreocupado quanto a imutabilidade de Deus, pois Ele, e tudo o que vem dele, é eterno: o seu amor, a sua misericórdia, a sua graça, o seu cuidado, como também tudo isso é completo. Não é pela metade. Deus não oferece algo pela metade. Isso é dito em "tudo o que Deus faz durará para sempre; nada se lhe pode acrescentar, e nada se lhe pode tirar".
As coisas de Deus são sérias
O primeiro verso de Eclesiastes 5 começa dizendo que se deve “guardar o teu pé, quando entrares na casa de Deus”. Eu confesso que na minha bíblia está escrito de outra maneira: “quando você for ao santuário de Deus, seja reverente”. O que isso significa? Demorei um pouco para compreender, mas esse verso representa que nossa aproximação de Deus não pode acontecer de qualquer maneira, de qualquer jeito.
E isso se confirma quando nos versículos seguintes somos orientados a pensar antes de agir ou falar, somos lembrados também de que a obediência e a disposição para ouvir a Palavra de Deus são mais importantes do que "rituais vazios ou sacrifícios feitos sem um coração sincero", e que é melhor não prometer do que prometer algo a Deus e não cumprir. Toda vez que prometo fazer um jejum, ou que vou fazer tal coisa para Ele, é porque antes eu realmente refleti, pensei e coloquei esse compromisso na “agenda” do coração.
Por exemplo, prometi a Deus que faria um exercício de um curso que estou fazendo sobre escrever uma carta a Ele escrevendo referente a todas as coisas que na minha visão parecem impossíveis de acontecerem, entregando em suas mãos, pois para Deus, nada é impossível.
Outro ponto desse capítulo que me tocou profundamente foi sobre a insatisfação contínua que as pessoas devotas ao dinheiro e riquezas carregam dentro de si, pois quem ama o dinheiro nunca vai ter o suficiente para se sentir realmente “farto”, como se a busca por mais nunca preenchesse o vazio que existe. Quem se preocupa apenas com o dinheiro, vai viver o resto da vida sob o medo de perder o que tem, e a ansiedade de manter o que conquistou. Eu sou uma pessoa “ambiciosa”, mas não como eu costumava ser. Hoje quero possuir o suficiente para viver bem e com qualidade de vida, e isso para mim, envolve muita simplicidade, e não algo que vai tirar o meu sono e me dar incerteza ou preocupações além da conta.
O controle é uma ilusão
"Quando os dias forem bons, aproveite-os bem; mas, quando forem ruins, considere: Deus fez tanto uns quanto outros, para evitar que o homem descubra alguma coisa sobre o seu futuro."
Esse versículo é um dos meus preferidos da bíblia, e o que mais me traz aprendizados e paz até hoje. Primeiro porque me faz lembrar que quando a vida é boa, quando as coisas estão fluindo bem, quando há motivos para sorrir & me alegrar, posso passar por esses momentos com gratidão a Deus. Mas quando os dias forem ruins, sou convidada a pensar que Deus é soberano em ambas estações. Tanto nos dias ensolarados, como nos dias tempestuosos. E que tudo, cada coisa, até as ruins, fazem parte do plano perfeito de Deus, e que todas as coisas contribuem para a vontade dele, ou seja, para o nosso bem, porque a vontade dele é perfeita, agradável e boa.
Inclusive, eu acho que se conseguíssemos vislumbrar 1% do nosso futuro, seríamos ainda mais prepotentes, arrogantes e auto suficientes; se já somos sem conseguir prever absolutamente nada, imagine podendo adivinhar o futuro. Provavelmente não dependíamos de Deus como dependemos sabendo que somos finitos no nosso entendimento, pois é exatamente a incerteza diante do mundo que nos leva a nos apegar nEle.
Não sabemos o que o amanhã nos reserva, e essa falta de conhecimento nos impede de planejar nossas vidas independentemente de Deus. Para pessoas que são controladoras ao extremo, isso é bom, porque nos ajuda a não cair na ilusão de que temos controle sobre tudo na nossa existência. Claro que aplicar isso no dia a dia é difícil, e já fica para outro post também.
Bom, acho que tem um milhão de outras coisas que eu poderia escrever sobre o livro de Eclesiastes; muitos outros versículos me tocaram profundamente e me fizeram refletir sobre a efemeridade da vida, sobre o significado das coisas terrenas, sobre a construção de uma vida com sabedoria e temor a Deus, mas acho que por hoje é só.
E para esse post não ficar muito grande, como uma boa amante da escrita que sou, criei um PDF com algumas perguntas e questionamentos para quem se identificou com os aprendizados que trouxe ou quem quiser responder após a leitura de Eclesiastes. Pode baixar gratuitamente & compartilhar também caso você saiba de alguém que possa se interessar.

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