Se tem algo no qual eu sou cheia, é de arrependimentos. Sobre as culpas, ainda estou aprendendo a contabilizá-las e entender o papel de cada uma na minha jornada. Acho que cada pessoa carrega as suas próprias lá no fundo, empilhadas uma sobre a outra.
Os arrependimentos existem, e vão desde os simples até os mais complexos, desde a decisão de ter furado a dieta comendo aquela pizza no final de semana até a desistência de entrar na faculdade porque estava vivendo uma época caótica. Elas podem ser pequenas ou grandes, esmagadoras ou superficiais, insistentes ou desistentes. Tudo vai depender do quanto estamos colocando energia e tempo para alimentá-las.
Ninguém gosta de cultivar as culpas e os arrependimentos, mas isso é feito de uma maneira tão inocente, imperceptível e discreta que você dificilmente vai perceber de primeira. É quase comum que venham desfaçadas de frases e balburdias como “E se eu tivesse feito diferente? E se eu tivesse escolhido outro caminho? E se eu não tivesse desistido? E se eu tivesse aceitado aquela oportunidade? E se eu tivesse dito não? E se naquele dia eu nem tivesse levantado da cama? E se eu tivesse insistido no meu sonho? E se eu tivesse cursado outra faculdade?”
☕ Tenho outro texto sobre esse assunto que escrevi lá em abril desse ano, lá na minha conta do Medium, se você tiver interesse de ler: clique aqui
Todos esses “e se” que vão sendo desenhados dentro da sua mente criam um fluxo interminável de perguntas, questionamentos & indagações. Algumas tão amargas que vão te corroendo por dentro. Então, você se perde da única coisa verdadeiramente real que existe na sua vida e que você de fato possui: o aqui e o agora. O passado é apenas uma história finalizada que insistimos em ver, ouvir ou reproduzir repetidas vezes; é como assistir a qualquer filme no modo replay, sem pausa, sem suspiro, sem se deparar com o novo, sem querer esbarrar no novo. Com o tempo, cansa. Com o tempo, você se desconecta mais de si mesma, porque você não é o passado que carrega, mas se bater tanto nessa mesma tecla, pode ser que você comece a acreditar que é.
O passado não é real. Ele não está acontecendo agora, é você que está insistindo em vivê-lo novamente.
Um dos maiores arrependimentos que tenho comigo é de não ter me decidido pela escrita. A única coisa - ou a mais forte - que ocasionalmente vem me dar as caras e me visitar de surpresa. Não ter acreditado no meu lado escritora doí. O pior é saber que muitos outros colocaram fé em mim: fui aprovada em um concurso de escrita criativa no museu Casa das Rosas aqui em São Paulo, concorrendo a uma das 12 vagas com mais de 1000 inscritos, ou daquela vez que entrei em um grupo de escrita na Universidade de São Paulo. Deixei essas oportunidades escaparem dos meus dedos por desculpas e justificativas esfarrapas que na época fizeram muito sentido, mas que hoje, já caíram por terra. Às vezes fico me perguntando o que teria sido de mim, da minha vida, da minha carreira, e de todo o resto, se eu tivesse simplesmente vestido o manto da coragem e continuado.
Eu nunca vou ter essa resposta, e você não vai ter nenhuma das suas perguntas respondidas também.
Quando todo esse turbilhão de coisas do passado submergem e aparecem na superfície, você precisa estar consciente para apertar o botão stop e interromper. Cortar a ligação, sabe? Não tem problema algum refletir e ponderar sobre o nosso passado - é até saudável e muito bem-vindo - desde que seja feito com o intuito de aprendizado, de recordações gostosas que vale a pena lembrar, de ligar os pontos aqui no presente, de contemplar uma versão nossa diferente e distante que merece os parabéns. Se o intuito for se machucar e apertar a ferida, vale mais a pena colocar um band-id e ir acolhendo o tanto que der.
A verdade é que você não sabia. É óbvio, hoje você pensa de uma maneira totalmente distinta de alguns anos atrás, então não é justo cobrar da sua versão do passado atitudes, escolhas e decisões diferentes, porque ela não tinha nem metade da bagagem que você foi tendo, construindo e fortalecendo com o tempo. São as nossas experiências que nos constituem. Isso vale para erros, decisões erradas, para as pessoas que magoou, para as oportunidades perdidas, para os hábitos que falhou, para tudo. Você não sabia.
É assim que aprendemos a seguir um caminho diferente: errando a rota. Isso é sinal de que estamos nos movendo, e não parados em qualquer lugar esperando alguma força divida, intervenção da natureza, ou certeza absoluta ou clareza imutável de que tudo vai acontecer ao nosso favor, porque não vai. Isso não quer dizer que a vida não te ame. Para você ser a pessoa que é hoje, você precisou passar - e mergulhar - por tudo o que aconteceu na sua história, seja de positivo ou negativo, de bom ou de ruim, de doce ou amargo, porque tudo isso te levou a estar onde você está, a ser quem você é, a ter as pessoas que tem na sua vida, a ter vivido todas as experiências que vieram depois.
Uma pequena e insignificante mudança, poderia fazer tudo ser diferente, mas será que, olhando com presença e intenção para tudo a sua volta, será que você iria desejar isso? Eu nunca. Apesar dos arrependimentos que carrego, e das curiosidades que tenho, eu jamais pediria uma segunda chance, porque isso poderia significar nunca ter encontrado o amor da minha vida, ou nem ter adotado as minhas três gatinhas que são minha alegria hoje em dia, ou se quer ter começo esse blog, ou conhecido os lugares incríveis que conheci, ou as poucas pessoas maravilhosas que tive a honra de conversar. Eu não estaria escrevendo esse texto desse lado e nem você lendo ele aí do outro lado, se uma vírgula se quer fosse apagada, substituída ou removida.
É nisso o que eu penso quando vem a vontade de chorar, ou quando já é tarde demais e o travesseiro se encheu de lágimas, ou aquela música nostálgica começou a tocar no modo aleatório e pronto, lá vem os pensamentos novamente. Algumas vezes vai doer menos, outras bem mais, mas aceitar não é simplesmente sentir em silêncio o dolorido e nem apenas olhar o remendo que fica no lugar sem fazer nada, mas é justamente o contrário. Quanto as culpas e os arrependimentos, a única coisa que cabe é aceitar, mas não de um jeito passivo & apático, mas fazendo algo de útil com isso que você carrega, da mesma forma que estou aqui escrevendo esse texto.
Teve uma época que comprei um celular mega vagabundo no carnê da Casas Bahia. Ele custava R$ 700 reais à vista, mas decidi parcelar em 24x e com os juros do parcelamento ficou quase 2 mil reais, e fiquei pagando durante 2 anos aquele celular. Depois de um tempo, caiu a ficha da burrada que eu havia feito, e eu chorei muito. Mas depois de um tempo finalmente aprendi a nunca tomar decisões no impulso, no desespero e na rapidez. Analisar, pensar & refletir antes de tudo. Eu poderia culpar a Luana do passado? Poderia, mas ter autocompaixão é justamente isso: dar o meu melhor para entendê-la.
Respondendo à pergunta no título do post: dance com essas culpas e arrependimentos. Crie histórias. Busque corrigir os erros, se for possível, e caso não, tente redescobrir os seus valores e princípios a partir disso. Mude. Fique com o coração aberto para aprender, redirecionar a rota & ajustar o mapa. Faça quadros. Tire fotos. Desenhe algumas pinturas. Encontre tempo livre. Converse. Faça amizades. Se desenvolva um pouco mais a cada dia. Aprenda filosofia. E mais um bocadinho de coisas que vai preencher as partes até então desconhecidas de você.
A única maneira de lidar com essas culpas & arrependimentos é viver a vida com um pouco mais de presença, porque só assim fazemos com que tudo o que nos trouxe até aqui tenha valido a pena, tenha tido um pingo de propósito e sirva de alguma coisa, por menor que seja. Talvez enquanto você estiver fazendo isso, seja possível ir ligando - bem devagarinho - os pontos, os nós e sei lá mais o que. Nós é que damos o significado as nossas experiências, ao que vivenciamos e também ao que deixamos de viver por um simples acaso ou escolha. E muita coisa que vivemos realmente não tem como mudar, mas tem como fazer diferente, ou até mesmo melhor. Enquanto estivermos vivos, nunca será tarde o bastante para resgatar, tentar, redescobrir-se, mergulhar-se.
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