Até hoje preciso lidar com a minha timidez. Embora eu saiba que não sou ela, e que ela não define quem eu sou, nem até onde eu sou capaz de ir ou o que posso fazer ao longo da minha jornada, preciso lidar com ela todo santo dia, apesar de que atualmente é uma grande vitória saber que ela não tem me paralisado tanto, nem tenha o mesmo efeito da minha época de escola. Ainda bem.

Pessoas tímidas tem o costume de acreditar, por conta de suas crenças desalinhadas, desadaptativas e distorcidas, que não são pessoas interessantes. Na maioria das vezes, preferimos o silêncio a ter de compartilhar nossa opinião, escolhemos o cantinho onde ninguém consegue nos ver para estar ao invés de decidir pelo palco, pelos holofotes, pelos aplausos. Fazemos isso guiados pelo medo da rejeição, de passar vergonha, de sermos desajustados, de nos verem de uma maneira diferente.

E principalmente o medo de não sermos interessantes. Muitas vezes, é um medo ilógico e sem qualquer fundamento. É impossível que um ser humano não tenha o mínimo de repertório para compartilhar com o mundo. Tenho certeza que você já viveu diferentes histórias desde o momento em que nasceu, em instantes únicos da sua jornada, em cada fase que você já enfrentou e superou. Ninguém se torna adulto sendo uma folha totalmente em branco.

Somos feitos de história. E por isso, carregamos uma bagagem enorme que, a qualquer decisão sua, pode ser partilhada e dividida. Talvez a sua história não seja um roteiro digno de filme, mas vale lembrar que é a sua história, e ninguém, mas absolutamente ninguém, viveu as mesmas coisas que você, do mesmo jeitinho, com as mesmas percepções, desejos, anseios e verdades. Ela é autêntica porque é sua.

Isso também significa carregar aprendizados, conhecimentos & entendimentos que você tem sobre a vida, sobre um determinado assunto, tema, ideia ou ponto de vista. Tudo o que você tem vale a pena de ser partilhado e dividido, mesmo que haja uma voz bem silenciosa te dizendo que “não é interessante, que ninguém vai querer ouvir, que todo mundo já sabe disso, é inútil dividir, tem pessoas demais falando sobre tal coisa”.

De um tempo para cá, eu percebi que toda essa crença de que “eu não sou uma pessoa interessante”, ou que “aquilo que tenho para compartilhar não é interessante” veio me visitar e ficou por aqui um longo tempinho. Não entendi o porquê dessa sensação estranha de estar falando com as paredes e a ideia de que ninguém vai querer me ouvir, me ler, me entender, me assistir, ter voltado a superfície, até que um dia eu assisti um vídeo sobre o fenômeno Ghost Views e muita coisa começou a se tornar claro e nítido, principalmente em relação a minha presença nas redes sociais.

Se você é criador de conteúdo vai entender. Sabe quando você compartilha algo importante, útil e valioso nas suas redes sociais, principalmente no Instagram, seja através do feed, story, reels, e há várias pessoas vendo o seu conteúdo, muitas mesmo, porém ninguém comenta, reage, dá um like, ou mostra qualquer sinal de interesse no que você está compartilhando? Ghost Views é sobre essas pessoas que passam horas e horas consumindo conteúdos aleatórios de coisas na internet, descendo o feed e clicando na bolinha dos stories um milhão de vezes apenas para observarem o que você está fazendo, porém sem possuírem o interesse genuíno de consumir de maneira intencional o que você está dividido com elas.

É como aquele vizinho que quer saber da vida de todo mundo, mas que quando te vê, finge que não te viu e passa reto, sem nem um bom dia se quer. Mas que vai estar sempre bisbilhotando pela janela cada um dos passos que você dá. Ele vai estar lá de prontidão, não importa o que você faça. Pois é. O Instagram está repleto de Ghost Views, o que não existe em outras plataformas como Blogger, Pinterest ou YouTube, porque o consumo nesses outros espaços digitais acontece de maneira mais intencional e com mais presença.

Esses observadores fantasmas nunca vão interagir, torcer por você, querer saber ou aprender mais sobre um determinado tema, te incentivar, comprar de você ou deixar o mais simples “obrigado”, nem seguir as suas dicas. De um tempo para cá, publicar e mostrar cada segundo da minha vida se tornou adoecedor e desconfortável, e percebi que quanto mais nós nos expomos, mais vamos atraindo esse tipo de perfil para a nossa conta. E a medida que isso vai acontecendo e se tornando cada vez mais real, você começa a achar que não é interessante.

O título dessa publicação é mentira, saiba disso, porque você é interessante sim. Mas só está tentando demostrar tudo o que você sabe, entende, sente, gosta, em uma rede social onde as pessoas não querem que você seja interessante, apenas que você compartilhe qualquer coisa para preencher um espaço do tédio que elas sentem. Isso vai aumentando a sensação de que não somos interessantes, porque o que mais poderíamos pensar se toda vez que nos esforçamos e nos dedicamos para criar um bom conteúdo, não há uma resposta de volta, não há um feedback, não há um diálogo e sim um monólogo, não há nenhum sinal do outro?

O quão frustrante isso é.

Isso, somando com aquela frase pronta de que “se o seu conteúdo não engaja, não vende, não gera like, e o diabo a quatro, é porque o seu conteúdo não é interessante e é ruim”, você começa a acreditar, com certeza, de que você não é interessante, que o único problema é você. Mas será que não é a toxidade do Instagram o problema? Será que não é a entrega da plataforma que é horrível? Será que não é a quantidade de Ghost Views presentes lá? Odeio os gurus do marketing.

As pessoas que você está tentando se conectar, iniciar um diálogo e bater um papo, realmente estão na mesma sintonia que você? Tem em comum os mesmos interesses e intenções? Isso não serve apenas para um rede social como o Instagram, mas para amizades, relacionamentos amoroso e família.

Tudo em você é interessante. Sua história. Seu jeito de ser. Seus conhecimentos. Suas experiências. Suas vivências. Sua personalidade. É apenas o lugar onde você está tentando partilhar tudo isso e as pessoas que está tentando iniciar um diálogo que não estão interessadas em aprender, ouvir, dialogar e trocar com você. Nunca deixe que uma quantidade de like, ou de views determine o quanto você é interessante e nem te faça duvidar do quanto tudo o que existe em você pode servir para agregar ao mundo e as outras pessoas que precisam do que você tem a oferecer.