Esse texto é sobre propósito, confusões & atalhos.
Se encontrar não é um instante, é um processo. Eu não acredito que um dia iremos acordar em uma linda manhã de sol e saber exatamente o porquê de estarmos vivos ou a razão de estarmos aqui, ou o motivo do acaso ter se esbarrado em nós. Eu acredito que vivemos para todos os dias construir um pouco mais desse porquê, a nossa maneira.
Não acho que propósito seja uma resposta que aparece magicamente como se tivéssemos esfregado uma lâmpada mágica. Bem que eu queria que fosse assim. Seria tão mais fácil, tão mais rápido & tão menos doloroso, mas não. Nós que lutemos para dar nome aos bois, como dizem por aí. Também não acho que propósito seja sobre estar em uma carreira, ou sobre uma profissão, ou um salário. Às vezes, acontece dele estar ligado e conectado aquilo que fazemos profissionalmente, mas em alguns casos, o propósito se manifesta nos relacionamentos, na arte, no lazer, na família, no voluntariado, etc.
Fui pesquisar a origem da palavra propósito, e eis o que encontrei: a palavra propósito vem do Latim proponere, que significa pro: à frente e ponere: colocar. Na sua origem, a palavra significa “colocar à frente”, “expor à vista”. Me deparar com essa definição quase fez com que pequenas lágrimas brotassem dos meus olhos, porque ficou evidente que propósito é estar em movimento, é se expor a vida sem medo e deixar ela te guiar. É confiar. E se existe algo que eu realmente tenho dificuldade é em confiar na vida, é acreditar que ela vai trazer o melhor e vai me confortar nos momentos difíceis.
Uma parte de mim, talvez a mais ansiosa e teimosa, queira ter a resposta de todas as minhas perguntas. Queira acordar de manhã com um mapa em mãos. Queira dar os passos de hoje tendo a certeza de saber para onde eles estarão me levando lá na frente. Detesto o momento em que a incerteza aparece, a hesitação toma conta e a confusão se torna parte da equação. Por isso eu odeio me sentir perdida. E tem sido comum acordar com essa sensação de não saber exatamente para onde eu estou indo, se estou focando na coisa certa, se aquilo que estou fazendo realmente vai me trazer bons frutos, se isso de fato deveria ser a minha prioridade, e na maioria das vezes, o que saí da minha boca é um grande EU NÃO SEI. Será que peguei a estrada certa? Não sei. Será que é essa esquina ou a próxima? Não sei.
Por isso ler que propósito é “colocar à frente e expor à vista”, me tranquiliza. Traz uma paz que talvez nenhuma certeza imutável traria, porque eu nunca vou descobrir o meu propósito. Eu nem sei se cada um de nós vem com um de fábrica, definido e pronto para ser colocado em prática. Isso é uma daquelas coisas que a gente constrói com base no que faz sentido para nós, e como descobrir o que faz sentido para você? Experimentando, vivendo, tentando, ralando muito o joelho, indo, caminhando & se expondo.
Propósito a gente não acha. Não é como abrir um pacote de figurinhas e esperar aquela carta que você deseja tanto aparecer. Não é algo que encontramos ao virar uma esquina. Não é algo que alguém diz para nós. Não é o mapa astral da hora do seu nascimento. Está mais como sair por aí recolhendo retalhos pelo caminho e no final montar uma colcha de retalhos, ao seu próprio jeito. Alguns retalhos pegamos para nós, outros descartamos porque não fazem mais tanto sentido, outros abraçamos com todas as nossas forças para não soltar, outros nem se quer nos damos o trabalho de pegar.
A única regra é: não esteja parado. Nada se constrói estando parado. Nadinha de nada. É bem provável que tudo aquilo que você está vivendo hoje, esteja te levando as estradas certas lá na frente, talvez você se depare com algumas descobertas pelo caminho, com mais clareza, mais autoconhecimento, com novas experiências, com pessoas que vão te mostrar um novo jeito de caminhar, mas se você estiver parado, a vida não vai te mandar esses sinais.
Eu sei que ninguém gosta dessa sensação de estar perdido, de carregar tantos “eu não sei”, mas não acho que vá chegar um momento em que as certezas serão maiores do que as incertezas. Elas carregam pesos, medidas e efeitos diferentes em proporções distintas. Tente o máximo possível usar essa sensação de estar perdido e tudo o que vem com ela, seja o vazio, as lacunas, a inutilidade, o ócio, o medo, a frustração, para explorar a vida e se colocar diante dela como um aprendiz.
Faça um curso novo. Converse com pessoas novas. Crie um novo hobby. Se desafie a fazer uma trilha. Comece um novo esporte. Se aprofunde em um assunto. Aprenda a cozinhar. Desenvolva uma habilidade. Saia mais.
Nosso propósito é viver aquilo que faz sentido para nós, que nos nutre, nos alimenta a alma, nos fortalece como ser humano e contribui para um mundo mais criativo. Mas isso pode ser infinitas coisas. Todas as pessoas que você vê por aí e acha que elas estão vivendo o propósito delas, saiba que elas apenas estão vivendo, se entregando, amando e se dedicando ao que preenche o espirito delas, seja em uma carreira, na família, na arte/hobby, algo que são verdadeiramente apaixonadas. Mas como eu falei: isso você só vai descobrir VIVENDO.
Você não faz ideia de como pode ser surpreendido quando você diz a vida: “eu estou pronta/pronto”. E se você não sabe exatamente para onde está indo, saiba que não existe caminho certo, caminho melhor ou caminho absoluto, o que existe é a sua escolha e você vai descobrir quando chegar no destino final, e se não for lá que você vai querer estar, então mude. Há sempre uma rota disponível.
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